Título: Pesque seu dinheiro
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Economia, p. 20

Dólar em queda, juros caindo e inflação em baixa afetam os rendimentos das aplicações financeiras e modificam a forma de especialistas avaliarem investimentos. Saiba onde colocar suas economias

Passado o pior momento da crise, o ambiente econômico brasileiro melhorou nas últimas semanas, o que deve preparar o retorno do país à rota do crescimento moderado. A taxa básica de juros (Selic) caiu de 13,75% em dezembro para 10,25% e deve continuar sendo cortada. A inflação ao consumidor em 12 meses diminuiu de 6,41% em outubro para 5,53%. Com a volta do capital estrangeiro, o dólar despencou de R$ 2,50 em 5 de dezembro para R$ 1,95 e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuperou as perdas desde setembro. Tudo isso mexeu com a percepção dos investidores sobre a rentabilidade de suas aplicações.

Afinal, no novo cenário, onde é melhor colocar suas economias? É certo que rentabilidade passada não é garantia do que vai ocorrer no futuro. Mas uma simples olhada nas tabelas fornecidas pelo Banco Central pode fornecer algumas pistas. A caderneta acumula rendimento de 2,94% no ano, o que continua atraente para investidores conservadores, ainda mais porque aplicações até R$ 50 mil permanecerão isentas do Imposto de Renda (IR) ano que vem. Os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) pagam 3,2%, mas é preciso descontar a taxa de administração do banco, maior para aplicação menor e o IR. Em vários casos, isso faz o ganho perder para a poupança.

A Bovespa chegou aos 53.341 pontos ontem. Segundo o BC, o rendimento médio dos fundos de ações é de 16,34% no ano. Aplicações no principal índice da bolsa, o Ibovespa, estão rendendo 41,67% até agora. De longe, a melhor aplicação do ano. Quem teve coragem e colocou R$ 10 mil no início do ano tem hoje R$ 14.167 brutos ¿ tanto no caso da bolsa como nos fundos, é preciso abater as taxas e o imposto. A pior aposta tem sido o dólar, que já caiu 15,58%. Mas alguns analistas esperam a recuperação e recomendam compra.

¿Quem tem mais de apetite para o risco e não vai precisar do dinheiro em dois anos pode aplicar em fundos cambiais. O dólar deve se recuperar nesse prazo, dando rentabilidade razoável¿, diz o economista Cláudio Carvajal, professor da Faculdade Módulo. O consultor Marcos Crivelaro, professor da FIAP-SP, discorda. ¿O dólar deve baixar para R$ 1,80 e voltar para algo em torno de R$ 1,90. É muito risco para pouco rendimento. É melhor aproveitar a moeda barata para viajar ao exterior ou comprar produtos eletrônicos¿, sugere.

Ambos concordam que a Bovespa vai continuar um bom investimento. Para Crivelaro, o Ibovespa deve chegar aos 65 mil pontos em seis meses. Quem aplicasse agora teria um ganho de 22% no período. Ele indica que o poupador destine até 30% de seus recursos na bolsa, em fundos de ações ou nos fundos multimercado. Ainda mais otimista, Carvajal acredita que a bolsa vai superar o recorde de 73.516 pontos ainda neste ano. Se isso ocorrer, o trabalhador que aplicar algum dinheiro na segunda-feira ganhará 37,8% até dezembro. Mas é preciso ter sangue frio e não se abalar com a gangorra do mercado.