Título: O real do Lula
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 04/02/2010, Economia, p. 21
Primeira mudança em cédulas custará R$ 1 bilhão. Troca começa em maio BRASÍLIA
Novas cédulas do real começarão a circular a partir de maio, na primeira mudança desde a sua criação, em 1994. A troca será escalonada, sendo estendida até 2012, e começará este ano com as notas de maior valor: R$ 100 e R$ 50. Conforme antecipou o GLOBO no último dia 24, as novas cédulas terão tamanhos diferenciados e trarão elementos de segurança com tecnologias mais avançadas e faixas holográficas. Atualmente, a produção de cédulas para reposição custa R$ 300 milhões por ano. Segundo o chefe do departamento do Meio Circulante do BC, João Sidney de Figueiredo Filho, as novas notas elevarão este custo a cerca de R$ 380 milhões, entre 25% e 28% mais, o que, nos três anos em que a troca será feita somará cerca de R$ 1,1 bilhão.
O milheiro custará R$ 200, ou R$ 0,20 por nota. O objetivo do governo é dificultar a ação de falsificadores e ajudar a população a identificar melhor as cédulas.
¿ Esse investimento a mais pode ser compensado ao longo do tempo, porque as notas novas vão durar cerca de 30% mais do que as atuais ¿ argumentou ele.
A vida útil das notas de R$ 20, R$ 50 e R$ 100 é hoje de cerca de três anos e a das demais, de um ano. As novas cédulas vão durar mais porque serão envernizadas com um produto transparente que as tornarão mais resistentes, que reduzirá também a absorção de sujeiras.
¿ Desta vez, no Brasil, uma mudança na família de moedas vem dentro de um processo de continuidade da estabilidade econômica ¿ afirmou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles.
A fabricação das cédulas será feita na Casa da Moeda, que modernizou seu parque industrial ao longo de 2009 e poderá, inclusive, prestar serviços no exterior: ¿ A atividade econômica está em expansão e necessitamos de mais meio circulante. O real é uma moeda forte e reflete a solidez da economia.Temos de nos preparar para colocar o real num curso internacional ¿ afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Meirelles acrescentou que ninguém terá que ir aos bancos para trocar as cédulas, uma vez que esse processo será feito naturalmente com a substituição das antigas pelas novas, conforme as primeiras forem se desgastando. No limite, toda a troca deverá estar concluída em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil. As notas antigas continuarão valendo até que sejam recolhidas.
A escolha das notas de R$ 100 e R$ 50 para iniciar o processo de substituição se deu pelo fato de elas serem as mais visadas pelos falsificadores. As notas de R$ 20 e R$ 10 serão trocadas a partir do primeiro semestre de 2011.
Já as de R$ 5 e R$ 2 só vão entrar em circulação em 2012. Há algum tempo a Casa da Moeda não imprime notas de R$ 1, que gradualmente estão sendo substituídas por moedas metálicas, processo que assim continuará. A criação da moeda metálica de R$ 2 está, por ora, descartada
Tom da nota mudará conforme movimento
O BC divulgou o esboço quase completo de como as notas ficarão. Os detalhes, como as novas marcas d¿água ¿ que passarão a ser os desenhos dos animais que estampam as notas ¿, somente serão conhecidos pouco antes de entrarem em circulação.
Na nota de R$ 100, por exemplo, a marca d¿água das cédulas atuais é a figura da República e, agora, passará a ser a da garoupa. Com isso, o governo quer evitar a ação de falsários.
No ano passado, a cada um milhão de notas que circulavam no país, 143 eram falsas, segundo o BC. Essa proporção chegou a 200 em 2005 e, apesar da redução, está longe da média que é vista com o euro, uma das inspirações da nova família do real: 53 por um milhão de unidades. Ao todo, circulam hoje no país 4,2 bilhões de notas, o equivalente a R$ 116 bilhões.
As mudanças no real também terão um objetivo social, ao facilitar a identificação por parte dos deficientes visuais.
Neste caso, a principal arma foi definir um tamanho específico para cada nota, proporcional ao seu valor.
Hoje, todas as cédulas produzidas têm 14 por 6,5 centímetros. Agora, elas vão variar de 12,1 por 6,5 cm, no caso das de R$ 2, a 15,6 por 7 cm, das de R$ 100.
Esse principio já é adotado em 83 países, além da União Europeia. As novas notas também serão impressas com uma tinta especial, que mudará de tonalidade conforme se movimentar a nota. Isso ocorrerá apenas em determinados lugares da cédula.
¿ Hoje cerca de 70% das transações financeiras do país são feitas em moeda. E 50% das pessoas recebem seus salários em dinheiro vivo ¿ disse o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles.
A mudança no formato não demandará grandes investimentos por parte dos bancos, uma vez que os caixas automáticos já têm capacidade para lidar com tamanhos diferentes.
As campanhas informativas para a população serão lançadas um pouco antes de as novas cédulas começarem a circular e ainda não há previsão de quanto será investido. Em outubro passado, o BC fez campanha nacional para informar como as pessoas podem detectar se uma nota é falsa ou não, que custou R$ 12 milhões.