Título: Tarso sobre aumento da violência em SP: sistema faliu no país todo
Autor: Freire, Flávio; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 04/02/2010, O País, p. 4

Dois dias após divulgação de aumento da violência em SP, Serra evita comentar

Flávio Freire, Soraya Aggege e Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO e SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP). Em meio à divulgação de números que mostram um aumento dos índices de criminalidade no Estado de São Paulo, o governador José Serra (PSDB) evitou ontem abordar o assunto. No único evento público do qual participou, o tucano ignorou o apelo dos jornalistas, feito a seus assessores, para tratar do tema.

Ao término do discurso sobre investimentos em educação, Serra conversou com assessores e decidiu que apenas o secretário de Educação, Paulo Renato de Souza, daria entrevista.

Serra perdeu o humor até em sua página no Twitter. A uma internauta que dizia estar preocupada com o recorde no número de roubos em 2009 (257 mil contra 217 mil no ano anterior, um aumento de 18%), respondeu: ¿Caso interesse, (dei) entrevista sobre segurança no programa Superpop, da Luciana Gimenez¿, disse ele, referindo-se à sua participação no programa da RedeTV! na segunda-feira, um dia antes de os números serem divulgados.

Já o ministro da Justiça, Tarso Genro, durante evento para a implantação do Cidade de Paz (um conjunto de programas que integram o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, Pronasci), em São Bernardo do Campo, disse que há ¿grande esforço¿ do governo paulista na área.

¿ Não vou manifestar um juízo sobre a política de São Paulo. Sei que que há um esforço muito grande das autoridades daqui, um esforço muito sério ¿ disse, ao ser perguntado se o sistema de segurança de São Paulo faliu.

Tarso ainda disse que o governo de São Paulo ¿pode ter razão¿ quando diz que o aumento das taxas de crimes é um reflexo da crise econômica mundial: ¿ Pode ter razão, porque tivemos durante muitos anos, décadas, no país, um processo de exclusão social muito grande, que gerou nas regiões metropolitanas de todo o país populações desassistidas, fora da sociedade formal, controladas por criminosos. Então, pode ser um efeito. A reaglutinação social do país começou há pouco.

Defendendo o Pronasci, Tarso, que deixará o cargo para concorrer ao governo gaúcho pelo PT, afirmou que o paradigma de segurança pública no país é que está falido: ¿ Os índices de violência de São Paulo são os índices de violência que tem em tudo que é estado do país, e não é em São Paulo que a segurança pública está problemática. É o sistema todo de segurança pública do país que está falido, que tem de mudar. E o Pronasci já começou essa mudança ¿ disse ele.

Na entrevista ao programa de TV na segunda-feira, Serra praticamente se limitou a fazer propaganda dos investimentos do seu governo em segurança.

Disse que o combate ao tráfico de drogas e ao contrabando de armas são de responsabilidade, num primeiro momento, do governo federal, por envolver as fronteiras do país.

Balanço do governo do estado informou que os homicídios aumentaram 3% entre 2008 e 2009, de 4.426 para 4.557. E que os casos de latrocínios passaram de 267 para 304.

Petistas paulistas, como um dos pré-candidatos ao governo do estado, o senador Aloizio Mercadante, usaram o Twitter para criticar Serra. O PSDB reagiu, afirmando que o PT está usando números deturpados para tentar evitar uma eventual derrota eleitoral.

Mercadante contou no Twitter que se reuniu com integrantes de uma associação de policiais com deficiência e disse que eles, ¿assim como toda a polícia de São Paulo, precisam de mais apoio e valorização¿. Mercadante pôs mais duas mensagens, citando os dados ¿trágicos¿ da segurança em São Paulo.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que a interpretação dos números está errada e que o PT faz ¿terrorismo¿ com os números para tentar incentivar a candidatura de Mercadante: ¿ Não sei bem o que anda no Twitter do Aloizio (Mercadante), mas seguramente é uma das páginas do Twitter com menor credibilidade.

No evento de ontem, Serra divulgou um balanço dos investimentos na educação em 2009. Informou que os gastos chegaram a R$ 961 milhões. E que deve gastar R$ 580 milhões em 2010, além de R$ 164 milhões, por meio de convênio entre estado e município.