Título: Mídia venezuelana contra-ataca
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 03/02/2010, O Mundo, p. 26

Associação de jornais e revistas publica manifesto de repúdio à repressão imposta por Chávez à RCTV e a outros veículos oposicionistas

Os jornais e as revistas da Venezuela revidaram os ataques que vêm sofrendo de Hugo Chávez e publicaram, na segunda-feira à noite, um comunicado em que rechaçam a decisão do presidente de fechar o canal (de oposição) RCTV, bem como sua perseguição às demais mídias venezuelanas. "A vocação totalitária e ditatorial que caracteriza o regime dito comunista do coronel Chávez é incompatível com toda a ideia de exercício democrático", disse o documento, preparado pelo Bloco de Imprensa Venezuelano (BPV), que há 52 anos reúne os 34 principais meios impressos do país.

Novos protestos em Caracas

Miguel Henrique Otero, vice-presidente da BPV, disse ao GLOBO que o documento tem como objetivo chamar a atenção para o fato de "Chávez destruir a democracia".

- Com o fechamento da RCTV a cabo no último 24 de janeiro (que desencadeou uma onda de protestos), e o fato de Chávez já controlar boa parte das rádios e TVs venezuelanas, os jornais e revistas se tornaram o último bastião da liberdade de expressão, e está ficando cada vez mais difícil trabalhar - disse Otero, que é diretor de redação e acionista do diário "El Nacional".

Os jornais venezuelanos andam sofrendo diretamente com a "nacionalização em massa de muitas empresas", segundo o BPV. Se antes cerca de 20% do faturamento de diários como o "El Nacional" e o "El Universal" vinham do Estado, agora o fato de Chávez controlar bancos, empresas de telefonia, eletricidade e até supermercados, como os da rede colombiana Exito, fizeram esse faturamento cair para 0%. No "El Nacional", anunciam supermercados privados, estádios e equipes de beisebol, cinemas, peças teatrais e lojas.

O Sindicato Nacional dos Jornalistas alertou para o fechamento de 32 emissoras de rádio desde que Chávez assumiu o poder, em 1999. E pediu que jornalistas postassem em rede sociais como Facebook e Twitter, às 16h (18h30m em Brasília), as frases: "Venezuela declarada zona de desastre para o exercício da liberdade de expressão e o jornalismo. Venezuela livre".

A onda de protestos disparada pelo problema com a RCTV - aliada às crises energética, de abastecimento de água, e à recente desvalorização da moeda local - continua em Caracas. Estudantes foram ontem ao Ministério Público pedir que autoridades investiguem agressões sofridas por manifestantes sexta passada, quando grupos não identificados atacaram a Universidade Católica Andrés Bello (Ucab).

- Estamos defendendo nossos espaços de luta de maneira pacífica e esperamos que o Estado faça o mesmo, punindo os responsáveis - disse Nizar El Fakih, aluno da Ucab e um dos líderes do movimento estudantil.

O Ministério Público prometeu averiguar os culpados. Os estudantes preparam para amanhã uma manifestação que promete parar as principais cidades. É dia 4 de fevereiro, data decretada por Chávez como feriado nacional. O motivo? É aniversário do golpe frustrado que promoveu em 1992.

- É um absurdo comemorar a data em que deparamos com esse tirano pela primeira vez - disse o funcionário de um bar que, oposicionista, não se identifica por temer represálias.