Título: Fazenda promete não abrir mão de disciplina fiscal em meio às eleições
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 03/02/2010, Economia, p. 20

A CONTA DA CRISE: Meirelles vê salário e crédito crescendo acima do previsto

Mantega pede que empresários cobrem continuidade de próximo presidente

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem que o governo não abrirá mão da disciplina fiscal e monetária neste ano por causa das eleições e propôs um pacto com o setor empresarial para blindar a economia de perturbações comuns em períodos eleitorais. Segundo ele, durante a crise o governo tomou medidas eficazes, e as empresas reagiram com confiança e atitudes positivas. Por isso, há hoje no país um ambiente de otimismo a ser preservado. Esse otimismo, disse Mantega, prova que o resultado negativo da indústria em 2009 "já é passado" e reflete a situação atual do setor, que cresce fortemente, para uma expansão de 7% no ano.

- O governo não vai mudar sua conduta, ou comportamento, porque é ano eleitoral. Ou seja, seguiremos com responsabilidade fiscal e monetárias - afirmou ele a uma plateia de mais de 300 empresários durante o seminário "Brasil: preparado para crescer", em São Paulo.

Para Mantega, não é hora de subir juros

Segundo Mantega, independentemente do candidato que vencer as eleições, os empresários devem "exigir o compromisso pela manutenção dos fundamentos e das políticas bem-sucedidas" na área econômica.

- Acredito que as eleições não vão interferir na economia, e isso já é um avanço que temos hoje. Mas temos de fazer um pacto para que a economia não sofra nenhuma perturbação num ano político - disse, reafirmando o compromisso do governo de não adotar medidas populistas. - E os senhores devem manter o desempenho normal, sem cair em canto da sereia.

Diante do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, também presente ao evento, Mantega afirmou que, se houver problema com a inflação este ano, o BC deverá subir os juros, embora, na sua avaliação, isso não seja necessário no momento.

- Eu acho que não há essa necessidade, a economia brasileira cresce solidamente e não está produzindo inflação - disse, referindo-se à inflação de janeiro como sazonal.

Já Meirelles destacou que a massa salarial e o crédito estão se expandindo acima da tendência de longo prazo, embora tenha ressaltado que a economia hoje cresce ancorada em bases sólidas. Ao ser perguntado se esse ritmo acelerado não indicaria uma alta dos juros mais à frente, Meirelles se esquivou, dizendo essa questão será tratada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser publicada amanhã.

Meirelles: investimento vai liderar crescimento

Na maior parte da palestra aos empresários, porém, Meirelles fez questão de reiterar que a economia brasileira hoje cresce de forma equilibrada:

- Temos uma inflação que está dentro da meta e uma política monetária equilibrada, que não é nem excessivamente frouxa nem apertada.

Segundo ele, o país voltou à condição de antes da crise no que se refere aos investimentos, que hoje são fortes:

- O consumo também será forte este ano, mas a liderança desta vez será do investimento.

Mantega atribuiu ainda a decisão de acabar com os estímulos (redução do IPI de automóveis e eletrodomésticos) à forte retomada da atividade industrial no país. E citou também certos excessos na demanda por aqueles bens.

- Havia também muitas notícias de aquecimento da economia, e começou a haver certa euforia, exagerada a meu ver - disse o ministro.