Título: Copom se reunirá sob pressão
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 06/06/2009, Economia, p. 23

Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que definirá na próxima semana o futuro da taxa básica de juros (Selic), especialistas já fazem suas apostas. Os críticos do BC defendem a manutenção do ritmo de cortes dos últimos meses e jogam sobre os ombros do presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles, a responsabilidade de decidir. A Selic está atualmente fixada em 10,25% ao ano.

Opositores ao modelo defendido por Meirelles o responsabilizam pelos sobressaltos ocorridos no câmbio. Os críticos mais ferrenhos, entre eles o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, defendem que o BC deveria tornar o processo de queda de juros mais acentuado como forma de evitar a continuidade da desvalorização da moeda americana na comparação com o real. No mercado, porém, essa posição não é majoritária. ¿Trata-se de um movimento mundial. O dólar está se enfraquecendo frente a quase todas as moedas do mundo. Por isso, não há nada que o BC possa fazer¿, diz o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Antonio Evaldo Comune.

No mês passado, Meirelles disse que a tendência da taxa de juros tanto na ponta curta como na longa é de queda. Meirelles jogou sobre o colo do Congresso Nacional toda a responsabilidade da continuidade da redução ou não da Selic. ¿A decisão do Congresso Nacional é soberana. Se não se quer eliminar limites institucionais à queda da taxa de juros do país, é uma decisão soberana do Congresso Nacional representando a sociedade brasileira¿, disse.

A economista-chefe da Arkhe DTVM, Inês Filipa, avalia que a reunião do Copom será uma das mais difíceis. ¿O presidente Henrique Meirelles tem feito declarações ora favoráveis a um corte mais agressivo e, às vezes, sendo um pouquinho mais conservador, diminuindo o ânimo dos investidores¿, resume. Na MB Associados, a avaliação feita pelo economista chefe, Sérgio Vale, é de que está na hora de o BC começar a olhar para 2010. O especialista defende que a Selic deverá encerrar 2009 em 9,25%. Já o diretor de investimentos da Porto Seguro e ex-diretor do BC, Sérgio Goldenstein, vai além: ¿O ponto é que não tem ameaça de inflação no horizonte e o PIB deverá fechar este ano com queda de 2%".

Para o chefe do departamento econômico do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio de Souza Leal, a melhor saída é um corte de 0,75 ponto percentual. De acordo com ele, o BC tem de atuar com personalidade para que ao fim do ano a taxa chegue a 8,75%. Por outro lado, na visão do assessor econômico da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Gonçalves, além dos maus resultados da atividade econômica, ao cortar mais a taxa de juros o BC estaria também fechando uma das janelas que têm levado à queda acentuada do câmbio.