Título: Arruda retoma comando da Câmara e diz em carta que 'toda crise passa'
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 03/02/2010, O País, p. 4

Deputado alega por escrito que dinheiro nas meias era de caixa dois

BRASÍLIA. Em discurso enviado ontem à Câmara Legislativa do Distrito Federal, o governador José Roberto Arruda prometeu abandonar a carreira política no fim do ano. Ele comparou o mensalão do DEM à crise econômica mundial e se disse "agredido e massacrado" pela investigação da PF que o acusa de chefiar esquema de corrupção em Brasília. Em tom emocional, citou trecho da Bíblia e disse que o escândalo vai passar. No mesmo dia, sua tropa de choque retomou o controle da Câmara e indicou o líder do governo, Batista das Cooperativas (PRP), para relatar os processos de impeachment.

Apesar das denúncias, Arruda se declarou tranquilo e previu o esquecimento do escândalo: "Toda crise passa. O que diferencia é como cada pessoa escolhe para atravessá-la. Minhas escolhas estão claras. Minha opção é pelo trabalho".

Wilson Lima é eleito e substitui Cabo Patrício

Como estava previsto, o deputado distrital Wilson Lima (PR), da tropa de choque do governo, foi eleito presidente da Câmara. A Comissão de Constituição e Justiça ficou com outro aliado, Geraldo Naves (DEM).

O deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido), que foi flagrado guardando dinheiro nas meias e nos bolsos, entregou ontem à Câmara Legislativa sua defesa no processo em que é acusado de quebra de decoro parlamentar. Ele reafirma, no texto, o que disse há dois meses: que o dinheiro não era do mensalão do DEM e sim de um esquema de caixa dois da campanha de 2006.

Para evitar contestações da oposição, Arruda escalou o secretário de Governo, Flávio Giussani, para ler a mensagem de abertura do ano legislativo. Num ato falho, o texto foi redigido em primeira pessoa e com referências ao plenário da Câmara, como se o governador estivesse diante dos deputados: "Venho a esta Casa despido de amarras partidárias e pretensões políticas. (...) Ponho-me diante desta digna presença investido de uma única ambição: continuar meu governo, ser um tocador de obras em tempo integral".

Após afirmar que "toda crise passa", Arruda disse sofrer com as acusações, mas tentou transmitir empolgação: "De um lado, a dor das denúncias que agridem, massacram, mas que serão esclarecidas a seu tempo, no devido processo legal. De outro o entusiasmo de, apesar de tudo, cumprir cada um dos meus compromissos com Brasília".

Nove anos depois de chorar e renunciar ao mandato de senador após admitir ter violado o painel eletrônico, o governador prometeu ir até o fim da gestão, mas disse estar próximo do fim da carreira política: "É assim que levanto a cabeça, vislumbro o final do meu governo e da minha vida pública. Sonho com o dia que voltarei plenamente à minha família e à minha vida pessoal, onde sou feliz". E concluiu citando a Bíblia: "Leio e repito com São Paulo, todos os dias, nas minhas orações, para antever o dia em que poderei dizer: "Combati o bom combate. Terminei meus dias. E não perdi a minha fé"."

Giussani encerrou a leitura em tom de constrangimento, e nem os aliados mais fiéis do governador esboçaram aplausos.