Título: Assessor complica situação de Arruda
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/02/2010, O País, p. 8

Secretário confirma conversa entre governador e jornalista que teria recebido suborno

BRASÍLIA. O secretário de Comunicação do Distrito Federal, Weligton Moraes, confirmou ontem que o governador José Roberto Arruda teve mesmo uma conversa por telefone com Edimilson Edson dos Santos, o Sombra, no começo de janeiro, quando estavam em curso as manobras para o suposto suborno do jornalista por R$ 3 milhões. Depois do ex-secretário Durval Barbosa, dono dos devastadores vídeos contra Arruda, Sombra é a mais importante testemunha da Operação Caixa de Pandora, investigação da Polícia Federal na qual Arruda é o alvo central.

Na quinta-feira, Sombra foi filmado, com sua autorização, pela PF recebendo R$ 200 mil do funcionário do metrô Antônio Bento, numa lanchonete em Brasília.

A polícia prendeu Antônio Bento e apreendeu o dinheiro, que seria a primeira parcela do suborno destinado a inocentar Arruda nas investigações da PF e do Ministério Público Federal.

Em depoimento à PF, depois da prisão de Antônio Bento, Sombra disse que, pelo suborno, deveria acusar Durval de montar os vídeos para criar uma farsa política e prejudicar Arruda.

O jornalista sustenta que as negociações tiveram três emissários de Arruda: o deputado Geraldo Naves (DEM), Antônio Bento, o pagador da primeira parcela, e o próprio Weligton Moraes. Os entendimentos iniciais estavam a cargo do deputado Geraldo Naves (DEM). Mas, por desconfiança, Sombra diz que pediu a Arruda a substituição de Naves por Moraes, com quem tem maior intimidade. Numa demonstração de franqueza, que pode complicar ainda mais a situação de Arruda, Moraes diz que, de fato, colocou Sombra em contato com o governador.

Sombra e Moraes marcaram um encontro numa sala de um shopping. Durante a reunião, Moraes recebeu o retorno de uma ligação a Arruda e repassou o telefone a Sombra. O governador e a testemunha conversaram.

Moraes diz que saiu da sala e, quando retornou, escutou Sombra dizer que o queria como interlocutor.

¿ Liguei para o Arruda, botei ele (Sombra) no telefone e saí da sala. Só ouvi ele dizer: quero o Weligton como interlocutor ¿ disse o secretário, ao GLOBO.

É a primeira vez que um auxiliar de Arruda confirma contato do governador com uma das testemunhaschave do mensalão.

Em nota divulgada na quinta-feira, a assessoria do governador sustenta que o suborno era mais uma armação. Para reforçar as acusações, Sombra entregou cópias de três DVDs, uma carta e um bilhete manuscrito no qual estariam registradas manobras para comprar seu depoimento e interferir nas investigações.

OAB pede bloqueio de bens de governador Um dos documentos é o bilhete entregue por Geraldo Naves a Sombra em janeiro, logo quando começaram as negociações entre as duas partes. No bilhete constam os tópicos enumerados de 1 a 6 : ¿gosto dele¿, ¿sei que tentou evitar¿, ¿quero ajuda¿, ¿sou grato¿, ¿Geraldo, tá valendo¿ e ¿GDF ok¿. Segundo Sombra, o bilhete foi escrito por Arruda para firmar o compromisso de que gostava de Durval, o pivô do escândalo e amigo de Sombra, que o deputado era o interlocutor autorizado e que as pendências das empresas do jornalista com o governo local seriam zeradas. Naves confirmou que o texto foi escrito por Arruda.

Naves renunciou ontem à presidência da Comissão de Constituição e Justiça. Weligton Moraes disse que sairá de férias e não retornará ao governo.

Numa outra frente, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, protocolou ontem ação na Justiça Federal pedindo o bloqueio dos bens de Arruda e de dez deputados distritais.

Ophir fez um apelo ao STJ para que afaste Arruda.