Título: Símbolos da crise, cidades reagem
Autor:
Fonte: O Globo, 07/02/2010, Economia, p. 28

Em municípios de Rio, Minas e SP, retomada faz empresas recontratarem. Desemprego atinge menos qualificados e mais velhos A recuperação da economia após o auge da crise global, desencadeada no fim de 2008, começa a chegar, de fato, às regiões mais industriais do Brasil, onde os números vermelhos dos economistas se traduziram em desemprego, incertezas e dificuldades. Aos poucos e em ritmos diferentes, o Sul Fluminense, a região de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista, e Itabira, em Minas Gerais, berço da Vale e do poeta Carlos Drummond de Andrade, forte em mineração, experimentam uma reação e, em alguns casos, expansão em padrões acima do pré-crise.

Entre o fim de 2008 e o início do ano passado, período mais agudo da crise, O GLOBO esteve nessas três regiões: Volta Redonda, Resende e Porto Real, símbolos da industrialização fluminense, com a CSN e as montadoras; em São José dos Campos (SP), berço da Embraer; e em Itabira, onde nasceu a Vale, hoje a segunda maior empresa do país. Um ano depois, a população dessas cidades começa a ver os sinais de que os efeitos da crise estão sendo superados, ao contrário do que ocorre em outros países, principalmente os desenvolvidos.

O Sul do Estado do Rio, por exemplo, já registra saldo positivo nos empregos. Foram abertas na região vagas em número suficiente para superar as demissões. E as cidades começam a atrair novos empreendimentos. Já em Minas, a recuperação tem um toque chinês: graças ao apetite do gigante asiático, a Vale está recontratando profissionais e há trabalhadores até com salários superiores aos pagos antes da crise. Em São José dos Campos, a situação é ambígua: a fábrica da GM está a pleno vapor, mas a Embraer enfrenta a crise mundial do mercado de aviação, o que a impede de recontratar os quatro mil funcionários desligados.

Isso demonstra, aliás, uma realidade apontada pelo especialistas: na crise, todos perdem, mas a recuperação é diferente para cada um. Na indústria, os setores mais dependentes do mercado externo e do câmbio continuam amargando um momento ruim. Na economia real, o desemprego se mantém justamente entre os trabalhadores menos qualificados e mais velhos: alguns profissionais estão há mais de um ano sem trabalho nessas três regiões, mostrando que, por trás dos números positivos, ainda há quem sofre com a crise.