Título: Empreiteiras investem em projetos no exterior na carona da Eletrobrás
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 07/02/2010, Economia, p. 26

Usina no Peru está na mira. Odebrecht e Camargo disputarão AES Eletropaulo Bruno Rosa, Ramona Ordoñez e Ronaldo D¿Ercole

RIO e SÃO PAULO. O avanço das grandes construtoras brasileiras como investidoras no setor de energia elétrica não se limita às fronteiras do país. As construtoras, que até pouco tempo se limitavam no setor elétrico a construir usinas hidrelétricas, pretendem ampliar suas atuações como empreendedoras nos projetos de internacionalização da Eletrobrás. O diretor da PSR Consultoria, Luiz Augusto Barroso, explicou que já existe um movimento de as construtoras entrarem como sócias com a estatal na construção de usinas no exterior. Um dos primeiros projetos em análise se refere à construção de usinas hidrelétricas no Peru.

¿ Geração de energia é um investimento de longo prazo e de retorno garantido. Ao serem sócias, essas companhias terão um ativo valorizado no futuro ¿ destacou Barroso.

O ex-diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Jerson Kelman disse que o movimento das construtoras como sócias dos projetos é um movimento que ¿até demorou a acontecer no Brasil¿: ¿ A tendência é as construtoras se constituírem em empresas de energia. Pelo modelo do setor, ganha o leilão quem oferecer o menor preço da tarifa ¿ explicou Kelman.

O movimento só agora começa a ganhar força no Brasil.

A Camargo Corrêa e a Odebrecht, por exemplo, já formaram um consórcio para participar do leilão da construção da usina de Belo Monte. Nos bastidores, as duas também disputam a compra da AES Eletropaulo.

A Andrade Gutierrez, por sua vez, acabou de adquirir fatia na Cemig, geradora de energia elétrica. As três empreiteiras também entraram nas usinas do Rio Madeira.

Na Camargo Corrêa, por exemplo, o setor de energia responde por 22,5% das receitas líquidas.

¿ O Brasil terá de investir maciçamente em infraestrutura, e nosso grupo está posicionado tanto no setor de construção quanto no de operação, que são vitais para o desenvolvimento do país ¿ diz o presidente do grupo Camargo Corrêa, Vitor Hallack. ¿ E como um grande player no setor de energia, continuaremos participando ativamente do processo de expansão, modernização e consolidação desse setor estratégico da economia.

Experiência consegue baixar custo da obra , diz advogado A Odebrecht, que sempre apostou na construção de usinas, diz que está analisando todas as oportunidades. A estratégia da Andrade Gutierrez consiste em ter participações acionárias ¿relevantes¿.

¿ Essas empresas nasceram como construtoras no regime militar e hoje formam grandes grupos econômicos, algumas, como a Camargo, já há alguns anos atuando como operadoras de concessões públicas ¿ diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBI), Adriano Pires, destacando a atuação do governo em favor da consolidação de setores estratégicos por grupos nacionais.

Para Ricardo Correa, da Ativa Corretora, a rentabilidade nesses setores está relacionada principalmente ao volume de obras. Walter de Vitto, analista do setor na Tendências, diz ainda que, além de ganhar dinheiro com as obras, ser dono de usina significa ter uma alta rentabilidade.

E a tendência, segundo Vitto, é de tarifas mais altas daqui para a frente.

¿ O setor elétrico funciona como uma renda fixa. Nesse caso, há um fluxo de caixa bem seguro, e o risco é baixo, já que se concentra na engenharia. Mas a aposta atual é na distribuição, pois é um mercado crescente e terá maior consumo daqui para frente ¿ diz Vitto.

Além disso, segundo o advogado Sérgio Varella Bruna, da Lobo & de Rizzo Advogados, como as construtoras já têm conhecimento sobre o setor, conseguem baratear o custo das obras e, assim, obter um retorno maior sobre o projeto.

Para a advogada Ana Karina Esteves, sócia do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, ter uma construtora como sócia é importante, pois ajuda a reduzir os riscos durante as obras.

¿ Após as obras, o projeto representa uma receita fixa garantida para as construtoras ¿ disse Karina.

Luiz Augusto destacou, por sua vez, que a participação de fornecedores nos projetos é uma tendência em outras áreas, como a de geração eólica. Tudo indica que fornecedores de equipamentos devem participar dos consórcios que venceram o leilão de energia eólica em fins do ano passado.