Título: Fim de IPI menor traz temor de inflação
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 02/02/2010, Economia, p. 22
Preocupado, governo promete monitorar preços de produtos da linha branca
BRASÍLIA. Suspensas as reduções do IPI para linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa e tanquinhos), carros e móveis, o governo vai acompanhar com lupa a evolução dos preços. Um dos temores da equipe econômica é que o fim dos benefícios provoque reajustes instantâneos, com impacto direto na inflação em um ano em que se projeta um crescimento econômico mais acentuado, o que, por si só, já pressiona os índices. A consideração esteve na mesa do governo no momento em que a decisão de suspender os benefícios foi tomada.
¿ No cenário pré-crise, havia a receita tributária e não tinha inflação. Agora, é preciso eliminar as desonerações para contribuir para a economia de forma sistêmica ¿ diz o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante.
No ano passado, uma série de produtos beneficiados pela redução do IPI ajudou a conter a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE. O indicador acabou fechando o ano em 4,31%, abaixo da meta prevista. O IPCA é usado pelo Banco Central (BC) para calcular a meta de inflação.
As quedas médias mais acentuadas ocorreram entre os itens da linha branca, segundo o IBGE, com destaque para máquinas de lavar, que registraram recuo de 9,1% no ano, e geladeiras, com redução de 6,14%. Os preços dos fogões caíram 1,53% no ano.
Para os automóveis, o movimento foi parecido. Os veículos novos registraram uma redução de 3,62%, e os usados, de 1,06%. Já o setor moveleiro, que só teve direito à desoneração de tributos a partir de novembro do ano passado, registrou alta de 7,5%.
Mercado prevê juros mais altos este ano
O impacto da desoneração sobre os materiais de construção foi variado. Mas o preço do cimento caiu 5,94%. Material de eletricidade registrou queda de 3,83% e pisos e azulejos, de 0,76%. Outros itens, segundo o IBGE, tiveram aumentos, em alguns casos expressivos. O tijolo subiu 18,87% no ano, sendo seguido por areia (7,46%), ferragens (5,24%) e pedras (4,1%).
A mudança dos sinais dos preços que caíram e o peso adicional dos que já haviam subido podem pressionar a inflação em um momento em que se prevê um aumento da demanda no embalo do crescimento da economia.
O mercado conta com uma inflação de 4,6% para este ano, acima da meta de 4,5%. Os analistas ouvidos pelo BC também preveem juros mais altos. Esperam que a Selic encerre o ano em 11,25%. Atualmente, a taxa de juros básica da economia está em 8,75% ao ano.