Título: Brasil e China resistem a sanções contra Irã
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 10/02/2010, O Mundo, p. 27

Obama defende pacote de medidas imediatas de restrições a Teerã, que já começa a enriquecer urânio a 20%

BRASÍLIA e WASHINGTON. O presidente americano, Barack Obama, defendeu ontem a adoção de novas sanções econômicas contra o Irã já nas próximas semanas. Em Brasília, no entanto, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, criticou a medida.

Afirmando que ainda há possibilidade de diálogo, o chanceler alinhou o Brasil junto à China, encabeçando a lista de países que ainda hesitam em defender mais rigor nas sanções contra o governo iraniano. Ontem, Teerã começou oficialmente o processo de enriquecimento de urânio a 20%, desafiando a paciência da diplomacia internacional.

¿ Há sempre pedidos de medidas mais e mais severas.

É muito perigoso passar do limite que coloca em risco a paz ¿ disse o chanceler.

Iranianos alegam que urânio é para pacientes de câncer Perguntado se a posição do Brasil não prejudicaria a reivindicação do país em uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, ele respondeu: ¿ Se eu fosse condicionar as posições do Brasil em funções de ambições, não dava um passo.

Tudo que você faz descontenta alguém. Acho que os países que só dizem `amém¿ não estão contribuindo para uma evolução ¿ alfinetou Amorim, lembrando que o Brasil também é contrário a uma corrida nuclear militarista iraniana.

Depois de semanas em que o governo do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad parecia dar sinais de boa vontade ao concordar com o envio de parte de seu urânio ao exterior, o anúncio repentino da linha de produção de combustível enriquecido a 20% irritou lideranças mundo afora. Obama subiu o tom e disse que a ¿comunidade internacional estava tomando medidas rápidas¿ para determinar novas restrições a Teerã.

¿ Estamos trabalhando nas próximas semanas num novo pacote de sanções que vai mostrar a eles como estão isolados do resto do mundo ¿ ameaçou Obama.

Os iranianos alegam que o urânio enriquecido a 20% será destinado à criação de medicamentos de radioterapia para o tratamento de câncer. Mas, segundo os Estados Unidos, a comunidade internacional está disposta a doar esses remédios ao Irã ¿ oferta que não obteve qualquer resposta de Teerã.

Apesar de não se saber exatamente que novas sanções entrarão em vigor, analistas acreditam que qualquer medida de aperto comercial ao já isolado país dos aiatolás pode mergulhar o Irã e seus cerca de 74 milhões de habitantes numa grave crise energética.

Embora seja um dos maiores produtores de petróleo cru do mundo, o Irã nunca investiu em refinarias. Estima-se que de 25% a 40% do petróleo usados internamente são exportados para serem refinados. Só então o governo iraniano compra o combustível de volta para consumo interno.

O secretário de Defesa americano, Robert Gates, fez coro a Obama e disse esperar que o pacote de sanções seja aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU ainda nas próximas semanas. A previsão é de que cresçam as pressões sobre o Brasil e outros países com assento rotativo no conselho para isolar a China e acelerar a aprovação do pacote.

Os chineses, relutantes quanto às novas sanções, podem se tornar peça-chave do destino do Irã ¿ já que têm poder de voto em qualquer resolução do Conselho de Segurança.

Ontem, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Pequim, Ma Zhaoxu, continuou defendendo o diálogo e as negociações com o governo de Ahmadinejad.

O enriquecimento de urânio começou na usina de Natanz, a mais importante do país, capaz de operar cinco mil centrífugas.

Imagens divulgadas pela TV estatal iraniana mostraram o chefe da agência nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, dando ordem para iniciar o processo sendo seguido por cientistas com um grito de ¿Allah hu Akbar¿ (Deus é grande, em árabe).