Título: Governo adia retaliação aos EUA por algodão
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Fonte: O Globo, 10/02/2010, Economia, p. 21

BRASÍLIA. Os ministros que integram a Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiram ontem adiar, para 1ode março, a divulgação da lista de produtos a serem usados para retaliar os Estados Unidos. A justificativa foi a necessidade de alguns ajustes. Mas o governo brasileiro quer ganhar tempo, para que os americanos apresentem uma contraproposta e negociem um acordo.

O Brasil foi autorizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) a retaliar os EUA em até US$ 830 milhões, como resultado de uma ação contra os subsídios concedidos aos produtores de algodão daquele país. Deste total, US$ 560 milhões podem ser usados por meio de aumento do imposto de importação de produtos dos EUA.

O restante deve vir por retaliação cruzada: a aplicação de sanções em áreas como serviços e propriedade intelectual.

O governo deverá editar medida provisória permitindo o uso da segunda opção, que se daria em patentes de medicamentos.

O adiamento ocorre uma semana depois de o novo embaixador dos EUA, Thomas Shannon, dizer que o melhor seria uma solução negociada.

No entanto, Shannon advertiu que uma retaliação sempre provoca uma contrarretaliação.

¿ As portas não estão fechadas ¿ diz o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Rozendey.

Tarifa de importação de etanol será zerada em julho Ele frisou que, qualquer solução com os EUA, terá que passar pela retirada dos subsídios ao algodão. Já a secretáriaexecutiva da Camex, Lytha Spíndola, deixou claro que o governo não acredita em contra-retaliação.

¿ Já decidimos que vamos retaliar e nossa maior preocupação na seleção de bens é com a indústria nacional ¿ diz ela, em referência à preocupação de não serem incluídos insumos e bens de capital na lista.

Para evitar retaliação, os EUA, além de fazerem os ajustes necessários em sua política de subsídios poderiam oferecer redução de barreiras, investimentos, preferências a bens e serviços brasileiros. A oferta teria de ser aceita pelo setor privado.

Embora a Camex tenha dado o sinal verde à retaliação, dentro do governo há duas correntes.

O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento preferem o caminho da negociação, em defesa da diplomacia e da indústria nacional.

Já Saúde, com foco no licenciamento compulsório de alguns medicamentos, e Agricultura, em nome dos exportadores brasileiros de algodão, apostam na retaliação.

A Camex também decidiu retirar da pauta a proposta de redução, de 20% para zero, da tarifa de importação de etanol.

Segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a decisão ficará para junho, quando a alíquota deixa de vigorar. Ele disse que a tendência é que a partir de julho o imposto seja zerado, como medida diplomática.

¿ Se reduzirmos a tarifa de importação, esperamos que os EUA façam o mesmo eliminado as barreiras ao etanol ¿ diz o ministro, adiantando que os EUA já deram sinais de que retribuirão retirando a sobretaxa de US$ 0,54 por galão na importação do etanol.