Título: Suriname prende 35 suspeitos
Autor: Suwwan, Leila; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/12/2009, O País, p. 3
Ministro admite que 20 brasileiras foram estupradas; ainda não há mortes confirmadas
Leila Suwwan, Chico de Gois e Evandro Éboli
BRASÍLIA
O governo do Suriname informou ontem que 35 suspeitos já foram detidos pelos ataques a estrangeiros na cidade de Albina, no dia 24. Pelo menos 20 mulheres brasileiras teriam sido estupradas e três brasileiros ainda estão hospitalizados em Paramaribo, a capital do país. Apesar dos relatos de vítimas do conflito, não há confirmação de outras mortes além daquela considerada o estopim do tumulto em Albina: o assassinato do surinamês Wilson Apensa, atribuído a um brasileiro.
Ontem, uma equipe da embaixada brasileira percorreu hotéis e hospitais em busca de informações sobre mortos e desaparecidos. Porém, o governo brasileiro não divulgou novas informações sobre as vítimas dos ataques e sobre quantos ainda estariam desaparecidos. Informou apenas que a segurança na região foi reforçada e que contatos foram mantidos entre as chancelarias. De acordo com o Itamaraty, o secretário-geral Antonio Patriota foi tranquilizado pelas autoridades, que se disseram surpreendidas pela violência contra brasileiros.
Patriota reuniu-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela manhã e informou que a situação no Suriname ¿começa a se normalizar¿.
O ministro da Justiça e de Polícia do Suriname, Chandrika Santokhi, disse à imprensa local que pelo menos 20 brasileiras foram estupradas e mais de 120 brasileiros e chineses se refugiaram numa base militar. Todos foram levados a Paramaribo. Há relatos contraditórios sobre o suposto assassino brasileiro. Não está claro se ele foi detido ou se está foragido. Segundo o jornal holandês ¿NRC Handelsblad¿, o professor holandês Hudo Den Boer, que trabalha em Albina, ajudou mulheres estupradas a registrar queixa: ¿ De repente, vi pessoas que conheço, vizinhos simpáticos, correndo com machados e destruindo tudo. Levei à polícia um pequeno grupo de mulheres brasileiras que foram estupradas e estavam completamente desamparadas.
Um conhecido meu, um chinês, teve sua loja destruída.
Autoridades locais recebem 55 queixas
Entre os 35 detidos, alguns dos suspeitos de estupro já teriam sido identificados.
Cerca de 55 queixas de agressão, estupro, saques e destruição já foram registradas, e o governo montou uma equipe especial para garantir a segurança na região e investigar os crimes. Segundo a imprensa local, uma disputa entre criminosos teria iniciado a onda de violência em Albina, que já foi um destino turística e hoje abriga garimpeiros, quase todos ilegais. A região também já enfrentou disputas sangrentas em décadas passadas, e é palco de conflitos entre imigrantes e quilombolas, conhecidos como ¿maroons¿.
Segundo um jornal local, o surinamês Wilson Apensa teria sido morto a facadas pelo brasileiro Ailson Alivera após tentar cobrar uma dívida de C1.400, por sua ajuda no suposto tráfico de brasileiros ilegais levados da vizinha Guiana Francesa. Alivera ainda está foragido. Após a morte de Apensa, ocorreu uma onda de agressões, saques e incêndios. Os cinco brasileiros transportos pela FAB para Belém do Pará relataram cenas de ¿filme de terror¿ em Albina. Autoridades locais descreveram o incidente como um pesadelo e um surto de anarquia.
O padre brasileiro José Vergílio, que integra o comitê de crise criado pelo governo do Suriname, voltou a afirmar ontem que o conflito resultou em mortes, mas, diferentemente de declarações anteriores, não estimou esse número.
Anteontem, Vergílio disse que, pelo menos sete brasileiros morreram.
Jornalistas citaram a dificuldade em localizar corpos por causa dos incêndios.
Alguns dos feridos foram levados à Guiana Francesa.
¿ Muitas pessoas foram massacradas, pisoteadas, esfaqueadas. Essa gente não conseguiria atravessar o rio a nado ¿disse o padre, calculando que o conflito deixou cerca de 130 pessoas feridas, entre brasileiros, chineses, peruanos e colombianos.