Título: Um pacote de bondades
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 14/02/2010, O País, p. 8

Aumento do piso regional foi maior do que o do salário mínimo nacional SÃO PAULO. Com uma série de medidas recentes que beneficiam desde quem recorre a empréstimos populares do Banco do Povo até fabricantes de iates, passando ainda por uma proposta generosa de aumento do salário mínimo paulista, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), abriu os cofres públicos. A última medida, anunciada antes do carnaval, aumenta o salário mínimo de quem trabalha na iniciativa privada no estado em 10,89%, passando de R$ 505 para R$ 560 ¿ R$ 50 acima do mínimo federal.

Embora não contemple o funcionalismo público, e o governador considere insignificante o impacto no orçamento estadual, a proposta tem destaque porque atinge categorias sem acordo sindical, como empregadas domésticas. A ideia seria avançar sobre um território mais explorado pelo governo Lula. Para não fazer feio, Serra propôs um reajuste maior do que o oferecido pelo governo federal, de 9,68%, o que elevou o mínimo de R$ 465 para R$ 510.

Serra tem se desdobrado para agradar ao eleitorado das cidades paulistas. Para pavimentar a relação com prefeitos, o governo vai liberar R$ 868 milhões aos municípios, por meio de convênios. Em três anos, os convênios somaram R$ 1,4 bilhão, segundo dados repassados ao GLOBO pela Secretaria de Planejamento. No fim de 2009, Serra conduziu, ao lado do secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, cerimônia com mais de 500 prefeitos para anunciar medidas na área de educação.

¿ As pessoas não vivem na União ou nos estados. Elas vivem nas cidades. E chegar nas pessoas implica chegar nos municípios ¿ disse Serra em seu programa oficial de rádio, quando anunciou que o dinheiro estava disponível.

Serra nega caráter eleitoreiro no aumento do volume de verbas repassadas para as prefeituras. O governador não poupou esforços para desonerar o contribuinte.

A redução de juros do Banco do Povo Paulista foi uma das tacadas do governo para conquistar a população de baixa renda. A taxa, que até setembro de 2009 era de 1% ao mês, passou para 0,7%.

¿ Tanto o Serra como a Dilma (Rousseff) usam a máquina para antecipar as campanhas, e o problema é que não tem como deixar de usar. Mesmo que não seja esse o foco, podem dizer que estão fazendo pelo bem do povo ¿ avalia o cientista político da Unicamp Plínio Dentzien.

Nem só a população de baixa renda foi beneficiada pelo governo. Donos de iates e veleiros também foram agraciados pela redução da alíquota do ICMS de 25% para 7% para a indústria náutica.