Título: Ahmadinejad: Não levamos Hillary a sério
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Fonte: O Globo, 17/02/2010, O Mundo, p. 22

Presidente iraniano elogia mediação do Brasil e diz que reagirá a qualquer tentativa de sanções contra o país

JEDDAH e TEERÃ. Declarando uma guerra verbal direta contra a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, garantiu ontem que seu governo reagirá a qualquer tentativa de impor novas sanções ao país. Falando a 200 jornalistas em Teerã, Ahmadinejad desdenhou as acusações feitas por Hillary na última segunda-feira - de que o Irã estaria se tornando uma ditadura militar - e disse não levar a sério as palavras da secretária de Estado.

- Não levamos a sério seus comentários. O orçamento militar dos EUA é 80 vezes maior que o do Irã e os americanos têm 300 mil soldados no Oriente Médio, envolvidas em guerras na região. Não são palavras sábias - declarou o presidente.

EUA, Rússia e França protestam junto à AIEA

Segundo ele, o Irã vai retaliar quem tomar medidas contra seu governo. Ahmadinejad disse que novas sanções não prejudicariam o Irã, mas que daria "uma resposta firme, para fazer com que seus autores se arrependam". Ele destacou ainda como frutíferos os esforços brasileiros para mediar a crise. Depois de viajar a Brasília em novembro passado, Ahmadinejad espera a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevista para maio.

- Temos muitos amigos interessados em ajudar, que, como nós, discordam das tensões e buscam a paz. Entre eles, o Brasil, com quem temos boas relações. O Brasil foi um dos países que defenderam o Irã.

Em mais uma provocação, o presidente iraniano anunciou estar testando novas centrífugas para enriquecer urânio cinco vezes mais potentes do que as em uso hoje na usina de Natanz. Mas, usando a tradicional retórica ambígua e desafiadora, Ahmadinejad ressaltou que as negociações para enviar o urânio ao exterior ainda estavam em andamento. Ontem, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, chegou a Teerã para tentar salvar a proposta feita pela ONU. O chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, garantiu que o país está disposto a considerar "novas ideias" para o intercâmbio de material nuclear.

Em Jeddah, na Arábia Saudita, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, voltou a atacar Teerã, advertindo que seu programa nuclear pode deflagrar uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio. No segundo dia de uma visita com o objetivo de conseguir o apoio saudita para convencer a China a votar a favor de novas sanções no Conselho de Segurança da ONU, Hillary afirmou categoricamente que "o Irã é hoje o maior baluarte de apoio ao terrorismo no mundo".

- Se o Irã tiver armas nucleares, outros países que se sintam ameaçados se acharão no direito de desenvolver armas atômicas para se proteger. Teremos então todo tipo de problema, o que pode ser perigoso - alertou. - Todos no Golfo estão seriamente preocupados com as intenções do Irã - disse ela.

A secretária de Estado falou a uma plateia na faculdade Dar al-Hekma, onde todas as alunas são mulheres, num evento raro para a conservadora Arábia Saudita e as rígidas restrições islâmicas wahabitas.

Após reunir-se com Hillary em Riad, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Príncipe Saud al-Faisal, se mostrou reticente quanto ao pedido americano de oferecer petróleo à China em troca do apoio de Pequim a novas sanções contra o Irã.

- Os chineses têm responsabilidades como uma das maiores potências do mundo e não precisam de conselhos da Arábia Saudita sobre o que fazer - disse al-Faisal, citado pelo jornal "Saudi Gazette".

Ontem, EUA, França e Rússia enviaram uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) expressando preocupação com o anúncio de que o Irã já começou a enriquecer urânio a 20%. Segundo o documento, a medida é injustificável.

- Se o Irã continuar nesta escalada, vai elevar ainda mais as suspeitas quanto a seus objetivos nucleares - diz o texto.

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