Título: Número 2 do Talibã é capturado
Autor: Mazzetti, Mark; Filkins, Dexter
Fonte: O Globo, 17/02/2010, O Mundo, p. 21

Prisão é a mais significativa desde o início da guerra e sugere mudança de postura do Paquistão

PARAMILITAR PAQUISTANÊS revista um afegão em Chaman, na fronteira entre os dois países: cerco ao Talibã aumenta

Oprincipal comandante militar talibã foi preso dias atrás em Karachi, Paquistão, numa operação secreta e conjunta entre agentes da inteligência paquistanesa e americana. O mulá Abdul Ghani Baradar é um afegão descrito por autoridades americanas como a figura talibã mais significativa a ser capturada desde o início da guerra, mais de oito anos atrás. Sua influência só é menor do que a do mulá Muhammad Omar, fundador do grupo fundamentalista e pessoa próxima a Osama bin Laden antes dos ataques de 11 de Setembro.

Mulá Baradar está sob custódia no Paquistão há vários dias (segundo algumas fontes desde o dia 8), sendo interrogado por agentes americanos e paquistaneses. Não está claro se ele já revelou algo, mas funcionários do governo americano disseram que a sua captura pode levar à prisão de outros líderes talibãs. Mais imediatamente, ele pode fornecer informações sobre o paradeiro de mulá Omar, líder espiritual do grupo.

Os detalhes da operação ainda não estão claros, mas funcionários do governo americano contaram que ela foi conduzida pela agência de espionagem paquistanesa, conhecida como ISI, e a CIA.

O governo americano acredita que, além de comandar as operações militares do Talibã, mulá Baradar controla o conselho de líderes do grupo, chamado de Shura de Quetta ¿ porque seus membros se esconderiam perto de Quetta, capital da província do Baluquistão, no Paquistão.

A participação do serviço secreto paquistanês sugere um novo nível de colaboração do país, que sempre foi ambivalente sobre os esforços para combater o Talibã. Cada vez mais, dizem os americanos, líderes paquistaneses, incluindo o comandante do Exército, general Ashfaq Parvez Kayani, chegam à conclusão de que não podem apoiar o Talibã no Paquistão ¿ como fizeram discretamente por anos ¿ sem se comprometerem. Fontes americanas chegaram a especular que os paquistaneses poderiam ter capturado Baradar há muito tempo. A inteligência americana acredita que elementos nas forças de segurança paquistanesas apoiavam o Talibã com ajuda financeira e logística.

Segundo general, míssil da Otan não errou o alvo

Os paquistaneses comandam o interrogatório de Baradar, mas os americanos também estão envolvidos. As condições do interrogatório não estão claras. O presidente dos EUA, Barack Obama, baniu técnicas polêmicas, como a simulação de afogamento, mas os paquistaneses são conhecidos por submeter prisioneiros a interrogatórios brutais.

Para alguns analistas, a prisão pode estar relacionada à tentativa de fazer o Talibã negociar, já que acredita-se que Baradar seja favorável às negociações.

A descoberta da captura de Baradar acontece quando as forças americanas e as afegãs estão em meio a uma grande ofensiva no sul do Afeganistão. Um porta-voz do Talibã, no entanto, afirmou que Baradar continuava livre.

¿ É apenas um rumor espalhado por estrangeiros para desviar a atenção da ofensiva em Marjah ¿ disse Zabiullah Mujahid. ¿ Eles estão enfrentando grandes problemas lá. Baradar está a salvo no Afeganistão.

Ontem, o general Nick Carter, comandante das forças britânicas no sul do Afeganistão, contrariou a afirmação da Otan de que o míssil que no domingo atingiu uma casa, matando 12 pessoas, havia se desviado 300 metros do alvo. Segundo Carter, o alvo era exatamente aquele. As autoridades afegãs contrariaram outra afirmação da Otan: de que os 12 ocupantes seriam civis. Para elas, havia três rebeldes entre os mortos.

Mais três civis e um soldado afegão foram mortos ontem na ofensiva. Segundo militares, a resistência está se tornando mais desorganizada, com menos ataques coordenados.

Com agências internacionais