Título: Paulo Octávio deve trocar secretariado para tentar evitar ser expulso do DEM
Autor: Camarotti, Gerson; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 17/02/2010, O País, p. 4

Líderes do partido exigiram demonstração pública de mudança de métodos

BRASÍLIA. O governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio, foi avisado por integrantes da direção do DEM de que, para ganhar uma sobrevida no partido e a possibilidade de escapar do processo de expulsão da legenda, terá de fazer uma mudança completa no secretariado, exonerando principalmente os envolvidos no escândalo do mensalão do DEM.

Segundo líderes democratas, essa substituição dos secretários pode ser encarada como um símbolo de que ele pretende fazer uma gestão de ruptura. Se a medida não for tomada imediatamente, observam integrantes da cúpula nacional do DEM, Paulo Octávio não conseguirá mudar a tendência pela expulsão, além da intervenção no diretório local do DEM.

Executiva Nacional do DEM se reúne na próxima semana

De forma reservada, Paulo Octávio já sinalizou que tentará montar um secretariado de notáveis. Deve convidar personalidades de todas as áreas para montar sua equipe. Entre nomes que já começam a ser citados para ocupar o primeiro escalão do Distrito Federal está o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso.

A reunião da Executiva Nacional do DEM está marcada para a próxima semana. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) disse que vai apresentar os pedidos de expulsão de Paulo Octávio e de intervenção no diretório do partido no DF. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), avisou que encaminhará o pedido para ser analisado pela Executiva.

- Os pedidos que forem apresentados serão encaminhados e analisados pela Executiva do DEM - avisou Maia.

O fato de a reunião ter sido marcada para a próxima semana dará fôlego para Paulo Octávio tentar se mobilizar. Hoje, a tendência do DEM é de aprovar a intervenção no diretório local. Mas a legenda está dividida em relação a expulsão do governador em exercício. A constatação no partido é que se Paulo Octávio não agir nos próximos dias, a situação pode ficar insustentável.

- A sensatez se impõe nessa hora. Ninguém vai defender o indefensável. Nem Rodrigo nem Demóstenes e muito menos eu. Nesse caso, quem vai se impor são os fatos - ressaltou o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Apesar do prazo, os próprios democratas reconhecem que Paulo Octávio terá dificuldade para fazer as mudanças necessárias para não deixar o partido desconfortável. Isso porque ele teria que romper completamente com o governador José Roberto Arruda, que está preso desde a semana passada na Superintendência da PF, em Brasília.

Durante o carnaval, Paulo Octávio adotou a estratégia de anunciar iniciativas para tentar se firmar no poder. Ele anunciou que vai determinar a revisão dos contratos com empresas citadas na Operação Caixa de Pandora, como construtoras, consultorias e companhias de informática.

Paulo Octávio tenta agendar visita a Arruda

Na segunda-feira, o governador interino do DF entrou em contato com a PF para agendar uma visita a Arruda. O pedido formal não chegou a ser feito. Ontem, o governador afastado do DF, detido na superintendência da PF, recebeu a visita do advogado Thiago Bouza. Segundo ele, Arruda começa a se interessar pelo noticiário, mas está ainda mais abatido do que nos dias anteriores. Bouza não quis falar sobre a possibilidade de Arruda renunciar ao cargo:

- Ele começa a mostrar interesse pelo que está acontecendo, mas está mais abatido.

Nenhum parente foi visitar Arruda. Além de Bouza, o cunhado de Arruda, Fábio Perez, esteve na superintendência da PF para levar o almoço dele. Às 9h da manhã, Maria Dolorosa Ferreira dos Santos, de 75 anos, foi para a frente da superintendência da PF rezar pelo governador. Com uma bíblia na mão, ela ficou até as 14h orando por Arruda. Fez questão de levar para ele uma revista da Pastoral de Oração do P Norte, bairro pobre de Brasília, onde ela mora.

- Eu não sei se ele é culpado. Isso eu não posso dizer. Eu não me senti bem vendo ele preso - disse a idosa.

À noite, Arruda foi fotografado olhando por trás da cortina da sala onde está preso, na Superintendência da PF.