Título: Paulo Octávio já cogita renunciar se ficar isolado
Autor: Camarotti, Gerson; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 15/02/2010, O País, p. 4
Para resistir no cargo, governador em exercício do DF tenta montar secretariado técnico e negocia amplo leque de alianças
BRASÍLIA. Numa tentativa de se manter no cargo até o fim do ano, o governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), que também enfrenta denúncias de envolvimento no escândalo de corrupção, tentará montar um secretariado de técnicos com competência reconhecida em todas as áreas e negociar um arco de alianças políticas. Mas, de forma reservada, o próprio Paulo Octávio admite que, se tiver dificuldade em implantar um governo suprapartidário, não ficará sozinho no meio do tiroteio. Nesse caso, ele já admite renunciar ao cargo.
Para interlocutores, o governador em exercício já avisou que precisa de garantias de que terá carta branca para administrar Brasília. Confirma, inclusive, a intenção de fazer um secretariado com grandes nomes para os próximos dez meses, tentando criar uma agenda positiva que permita condições mínimas de governabilidade.
É nesse contexto que o governador afastado, José Roberto Arruda, começou a ser fortemente pressionando a renunciar.
Seria uma forma de diminuir o risco de uma intervenção federal no DF. Nesse caso, avaliam os aliados, Arruda teria mais facilidade para conseguir um habeas corpus e sair da prisão. Isso porque, fora do poder, enfraqueceria o argumento da Justiça de que ele usa o cargo para influenciar e obstruir as investigações. Mas Arruda resiste à renúncia, apesar de estar muito abatido.
Ontem, Paulo Octávio classificou como um ¿golpe à emancipação política de Brasília¿ a possível intervenção no DF, pedida pela ProcuradoriaGeral da República. Na quartafeira, ele deverá ter um encontro com o presidente Lula.
¿ Nós temos uma intervenção que está nos ameaçando.
Isso pode significar um golpe à emancipação política de Brasília.
Então, precisamos ter seriedade no momento ¿ disse.
Gastos do governo serão publicados na internet
Paulo Octávio também tenta tomar iniciativas para mostrar que o Distrito Federal já tem nova administração. Ele disse ontem que vai determinar a revisão dos contratos do GDF com empresas citadas na operação Caixa de Pandora como pagadoras de propinas aos aliados de Arruda.
Em entrevista, o governador em exercício disse que não seria conveniente manter projetos de empresas que não passaram por licitação. Entre as empresas sob investigação da Polícia Federal estão construtoras, consultorias e companhias de informática.
A oposição ao governo havia pedido auditorias em 23 empresas pelo Tribunal de Contas da União, mas o governador ressaltou que só devem ser encerrados os contratos firmados sem licitação.
¿ Pedi ao secretário de Planejamento que fizesse um estudo sobre todas as citações de empresas dentro desse processo que corre no STJ para avaliar caso a caso. O que tem licitação, o que não tem licitação.
A princípio, seria conveniente não prosseguir com nenhum projeto em execução com empresas que não participaram do processo licitatório ¿ afirmou Paulo Octávio, que visitou pela manhã o Hospital de Base de Brasília, mantendo a estratégia de percorrer regiões do Distrito Federal. Na véspera, esteve em canteiros de obras da cidade.
Mesmo com as denúncias de corrupção, as gravações e imagens de empresários comentando pagamento de propina, o orçamento de 2010 do GDF prevê o pagamento dessas empresas. Deputados distritais oposicionistas querem que as companhias sejam proibidas de prestar serviços ao governo do DF.
Outra promessa do novo governo será colocar na internet os gastos da administração pública. Dessa forma, ele espera convencer o Ministério Público e a Justiça de que nos últimos meses de gestão haverá transparência nos gastos.
Três empresas sob suspeita de financiar o mensalão tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados pelo Superior Tribunal de Justiça, mas, como o inquérito corre em segredo, os resultados não foram divulgados.