Título: General se nega a mostrar carta de desculpas
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 12/02/2010, O País, p. 11

Eduardo Azeredo afirma que militar disse ser impossível garantir que Alexandre, o Grande, ou Júlio Cesar eram gays

BRASÍLIA. A novela da polêmica indicação do general de Exército Raymundo Nonato de Cerqueira Filho, para uma vaga de ministro do Superior Tribunal Militar (STM), continua no Senado.

Ontem ele se negou a atender ao pedido do senador Eduardo Suplicy (PT-DF) para divulgar o teor da carta enviada ao relator do processo, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), para negar que tenha dado declarações homofóbicas durante a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Depois da polêmica provocada pela declaração de que há incompatibilidade entre homossexuais assumidos e a atividade militar, na carta não divulgada por Azeredo, ele ataca a imprensa e diz que não se pode afirmar que Alexandre o Grande, o mais célebre conquistador do mundo antigo, e o imperador romano Júlio Cesar, eram gays.

Na tarde de quarta-feira, Azeredo leu para os jornalistas apenas alguns trechos da carta de quatro páginas enviada pelo general Cerqueira, se comprometendo a nunca contrariar a Constituição em seus julgamentos, nem perseguir militares por se declararem homossexuais. Azeredo ontem continuou se negando a divulgar a parte que o general atacava a imprensa.

¿ Ele achou melhor não divulgar para evitar mais problemas na votação da indicação do general no plenário ¿ disse o senador Romeu Tuma (PTB-SP).

Suplicy tentou convencer general a divulgar carta O senador Azeredo chegou a ficar irritado com Suplicy, que insistiu em ler o conteúdo de toda a carta. À tarde, o senador petista ligou para o general Raymundo Cerqueira tentando convencê-lo a divulgar a carta, mas sem sucesso.

De acordo com o relato de quem leu o texto, o general reclama que a imprensa explorou suas declarações, rotulandoas de homofóbicas.

¿ Falei com o general, mas ele disse que considera suficiente os trechos da carta que o senador Azeredo divulgou. Ele disse que houve maldade na interpretação das suas declarações, que não foram homofóbicas.

Disse também que, ao contrário do que foi publicado pela imprensa, não se pode assegurar qual o comportamento sexual de Alexandre, o Grande, ou Júlio Cesar, com base no que foi escrito 350 anos antes de Cristo ¿ disse Suplicy.

Na primeira sabatina, o general Raymundo Cerqueira, ao ser questionado pelo presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO), sobre a presença de homossexuais nas Forças Armadas, respondeu que ¿a vida militar reveste-se de determinadas características, inclusive em combate, que pode não se ajustar ao comportamento desse indivíduo¿.

Como a declaração foi dada ao final da sabatina, com a aprovação do seu nome já garantida, o senador Eduardo Suplicy encaminhou à CCJ um requerimento de reconvocação do militar para que ele se explicasse antes da votação final em plenário.

O senador petista disse que vai votar pela aprovação da indicação do STM, porque Cerqueira se comprometeu a respeitar a Constituição.

¿ É uma carta interessante, porque não divulgar? ¿ questionou Suplicy.