Título: Em acordo inédito, UE promete socorrer Grécia
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Fonte: O Globo, 12/02/2010, Economia, p. 25
País terá de reduzir déficit fiscal a 4% do PIB em 2010. Bancos franceses lideram exposição europeia ao país
RUXELAS , NOVA YORK, WASHINGTON e RIO.
Após dias de expectativas quanto a um possível socorro à Grécia, os líderes dos 27 países da União Europeia (UE) assumiram ontem o compromisso político de ajudar o país a enfrentar sua crise fiscal.
É a primeira vez que a UE socorrerá um país na zona do euro, desde que a moeda única foi criada, há 11 anos. Não foram divulgados detalhes do plano de resgate. Entre as opções que estariam sendo avaliadas estão a compra de títulos da dívida do país, a oferta de garantia a seus credores e a liberação, pela Comissão Europeia ¿ braço executivo da UE ¿ do fundo de ajuda regional.
¿Os Estados membros da zona do euro vão tomar ação determinada e coordenada, se necessário, para salvaguardar a estabilidade financeira da região¿, diz o comunicado divulgado ontem e endossado pelos 27 países da UE, reunidos em Bruxelas. No texto, os países da UE reiteraram seu pedido para que a Grécia reduza a 4% do PIB seu déficit fiscal este ano e que vão monitorar o desempenho do país.
As recomendações deverão ser feitas na próxima terça-feira, quando os ministros das Finanças dos 16 países da zona do euro voltam a se reunir. Uma primeira avaliação da economia grega será feita em março.
¿ A Grécia não será abandonada, mas existem regras e estas precisam ser cumpridas ¿ disse a chanceler alemã, Angela Merkel, que se reuniu com o premier grego, George Papandreou, antes da cúpula da UE.
Por trás da boa vontade da UE está a elevada exposição dos bancos europeus à Grécia. De acordo com o ¿Wall Street Journal¿, bancos públicos e privados franceses lideram o ranking europeu de exposição ao país, com US$ 78,9 bilhões, segundo dados de setembro. Em seguida vêm os suíços (US$ 78,6 bilhões) e os alemães (US$ 43,2 bilhões). Ontem, o euro caiu 1% frente ao dólar, para US$ 1,3606. PIB espanhol: maior queda em mais de 50 anos em 2009 Com um déficit fiscal de 12,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), a Grécia está no centro da maior crise que o euro enfrenta desde sua criação. O receio é que o governo grego dê um calote nos credores, desestabilizando ainda mais as já frágeis economias do bloco dos Piigs (Portugal, Itália, Irlanda e Espanha, além da própria Grécia, na sigla em inglês).
O apelo por um compromisso de ajuda à Grécia ganhou ainda mais força ontem, com a notícia de que a economia espanhola contraiu 0,1% no último trimestre de 2009, em relação ao trimestre precedente.
Foi a sétima retração trimestral seguida. No ano, o PIB espanhol caiu 3,6%, a maior queda em mais de 50 anos.
De acordo com a BBC Brasil, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai dar apenas auxílio técnico ao plano de resgate. As opções mais viáveis seriam a compra de bônus da dívida grega por Alemanha e França, a oferta de garantias aos credores da Grécia ou a autorização pela Comissão Europeia para que o país tenha acesso ao fundo de ajuda regional da UE.
O mercado americano reagiu bem à promessa de apoio à Grécia.
O Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 1,05%. Outro fator que influenciou a Bolsa foi a queda nos pedidos de segurodesemprego nos EUA na última semana, para 440 mil. Além disso, a Casa Branca informou que o número de vagas no país deve aumentar em 95 mil por mês, em média, este ano.
Bovespa avança 1,66%; dólar sobe a R$ 1,850; No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também foi impulsionada pelo anúncio da UE e fechou em alta pelo quarto pregão seguido. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, avançou 1,66%, a 66.129 pontos, zerando as perdas da última semana.
Para Edson Marcellino, da FinaBank Corretora, ¿a promessa de socorro afastou o temor de contágio do risco de calote para outros países¿. Em dia volátil, o dólar subiu 0,05%, a R$ 1,850.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu o registro de companhia estrangeira da Agrenco por descumprimento de suas obrigações na prestação de informações. A medida impede que o recibo da empresa seja negociado na Bovespa. (Marina Schreiber, com agências internacionais)