Título: Um mês depois do terremoto, chuvas ameaçam os sobreviventes no Haiti
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Fonte: O Globo, 13/02/2010, O Mundo, p. 28

Ato ecumênico reúne milhares, mas cresce irritação com ajuda falha PORTO PRÍNCIPE. Milhares de haitianos se reuniram ontem em frente às ruínas do Palácio Nacional para um ato ecumênico em memória às vítimas do terremoto que matou mais de 200 mil e deixou pelo menos um milhão de desabrigados há um mês. Enfrentando uma grave crise humanitária, agravada pela chegada estação das chuvas, o presidente do Haiti, René Préval, pediu ontem que a população ¿enxugue as lágrimas e reconstrua seu país devastado¿.

¿ A dor é muito grande para expressar com palavras. A força e a coragem do povo haitiano, que está sofrendo nesta desgraça, mostram que o Haiti não pode perecer e não vai perecer ¿ declarou Préval.

A multidão usava roupas brancas ou negras em sinal de pesar. O ato deu início a um período de luto oficial de seis dias e, segundo oficiais, deve terminar com uma festa com música e artistas na principal praça de Porto Príncipe, numa tentativa de dar um pouco de alegria e esperança aos sobreviventes.

Apesar dos grandes montantes de recursos internacionais enviados ao país, os esforços de ajuda humanitária ainda são deficientes. Entre as ruínas da capital, hordas de desabrigados não têm acesso constante a alimentos e água potável, e a falta generalizada de infraestrutura começa a irritar os haitianos.

Há registros frequentes de saques e protestos. Ontem um grupo de manifestantes fechou a estrada de acesso ao aeroporto entoando gritos de ordem.

¿ Queremos tendas para dormir ¿ reclamavam.

Com milhares de haitianos sobrevivendo em campos improvisados nas ruas, outro desafio iminente para as agências de ajuda humanitária internacionais será contornar a estação das chuvas ¿ que começa tradicionalmente no fim do mês de março ¿ mas que, este ano, já deu sinais de antecipação.

Ontem, um temporal inundou o parque Champ de Mars, tornando realmente impossível a vida de milhares, amontados em barracas em meio ao lixo.

¿Estamos todos molhados.

Aqui nada foi distribuído, nem comida, nem tendas. Não podemos seguir as instruções porque não há rádios ou eletricidades¿, disse Pierre Richard ao jornal ¿El País¿.

Ontem, as Nações Unidas se disseram ¿alarmadas¿ com a falta de apoio global ao projeto de recuperação da agricultura do Haiti, capaz de gerar empregos e alimentos.

¿ Do total de US$ 575 milhões pedidos pela ONU, US$ 23 milhões eram para a agricultura, mas apenas 8% deste valor foram angariados ¿ disse o diretorgeral da Organização de Comida e Agricultura da ONU, Jacques Diouf.