Título: Arruda teria usado BRB para aliciar acusador
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 13/02/2010, O País, p. 8

Procuradores querem ouvir funcionários do banco encarregados de limpar a ficha de empresa de jornalista

BRASÍLIA. O testemunho de três funcionários do Banco Regional de Brasília (BRB) pode reforçar ainda mais as provas de que o governador afastado, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), tentou subornar testemunha do inquérito que investiga o esquema de corrupção em seu governo. O diretor de Mercado, Francisco Soares Pereira, o superintendente Luciano Henn Bernardi e o gerente do posto de atendimento do Buritis, Valdir José dos Santos, foram arrolados como testemunhas na denúncia apresentada anteontem no Superior Tribunal de Justiça contra Arruda (STJ). Eles teriam participado, a mando do governador, de uma operação para limpar a ficha do jornalista Edmilson Edson Sombra no BRB e conceder a ele um crédito de R$ 450 mil.

A denúncia apresentada contra Arruda é assinada pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, e pela subprocuradorageral Raquel Dodge. Os dois querem que funcionários do banco, controlado pelo governo local, expliquem os detalhes da manobra, que teria como objetivo reabrir as portas da instituição financeira a Sombra, uma das mais importantes testemunhas das investigações sobre o mensalão do DEM.

Sombra citou proposta de suborno ao depor na PF

A abertura da conta era um dos itens negociados para que o jornalista desqualificasse as provas apresentadas pelo exsecretário Durval Barbosa contra Arruda e parlamentares aliados do governador. No depoimento que prestou à Polícia Federal, quinta-feira da semana passada, Sombra fez apenas uma referência ¿à conta garantia¿ que teria no BRB, em troca de um depoimento contra Durval e a favor de Arruda. Mas, em conversas reservadas com amigos antes da prisão do governador, Sombra relatou os detalhes da transação.

Segundo um dos interlocutores do jornalista e testemunha de parte das negociações, Arruda escalou o diretor de Mercados, Francisco Pereira, para limpar a ficha de uma das empresas do jornalista. A dívida da empresa, que estava inadimplente, deveria ser negociada a longo prazo e, com isso, eliminar as restrições a abertura de nova conta no banco. Na etapa seguinte, o banco abriria uma conta garantia para a empresa do jornalista, como se ela não tivesse pendência alguma na instituição.

Para completar o agrado, a conta viria com um limite de R$ 450 mil.

¿ Era como se fosse um crédito imediato de R$ 450 mil, que ele poderia sacar imediatamente, como um cheque especial de uma pessoa física ¿ disse ao GLOBO um dos amigos mais próximos do jornalista.

Pressionado, gerente do banco teria aceitado tarefa

A partir da suposta ordem do governador, Francisco Pereira acionou o superintendente Luciano Bernardi. O superintendente destacou para a tarefa o gerente Valdir dos Santos.

Segundo a testemunha, inicialmente o gerente se recusou a cumprir a ordem. Mas, pressionado pelos chefes, aceitou o trabalho. Pelo acerto, a conta deveria ser aberta num encontro entre Sombra, Bernardi e Santos. O encontro estava marcado para as 17h da segundafeira da semana passada. Mas, desconfiado, o jornalista não compareceu.

¿ O Sombra não foi. Mas os outros foram. As câmeras do circuito interno da agência registraram a presença deles lá.

A Polícia Federal já até requisitou as imagens ¿ disse o amigo do jornalista.

Três dias depois, o conselheiro do metrô de Brasília Antônio Bento foi preso em flagrante. Ele foi detido depois de entregar R$ 200 mil a Sombra. O dinheiro faria parte do pagamento do suborno ao jornalista. A partir da prisão de Bento, o Ministério Público pediu, e o STJ decretou, a prisão de Arruda e de cinco colaboradores do governador que participaram das negociações com Sombra. A primeira referência ao BRB surgiu num bilhete manuscrito que o ex-deputado Geraldo Naves entregou a Sombra em janeiro, quando começou o cerco ao jornalista.

Bilhete supostamente escrito por Arruda será periciado

No item de número 6 do bilhete, está escrito ¿GDF OK¿. O bilhete, supostamente escrito por Arruda, era a indicação de que as pendências da empresa do jornalista com o Banco de Brasília seriam definitivamente resolvidas. Naves disse que o bilhete foi mesmo escrito por Arruda. O ex-secretário de Comunicação Wellington Moraes, que também viu o bilhete, disse que a letra era de Arruda.

O documento será submetido a exame grafotécnico pela Polícia Federal.

Procurados pela assessoria do BRB, os três funcionários não quiseram falar do caso.