Título: Recorde no emprego em janeiro
Autor: Batista, Henrique Gomes; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 19/02/2010, Economia, p. 25
Foram criados 181.419 postos com carteira. Mas indústria não zerou perdas da crise e
O Brasil começou o ano com um forte ritmo de contratações com carteira assinada.
O Ministério do Trabalho informou ontem que, em janeiro, foram criadas 181.419 vagas formais. Esse é o melhor saldo para o mês de janeiro desde 1992, início da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No ano passado, no mesmo mês, quando o país ainda estava em recessão, foram fechadas 101.748 vagas. O recorde anterior havia sido registrado em janeiro de 2008, com 142.921 postos de trabalho.
De setembro de 2008 ¿ ápice da crise global ¿ a janeiro deste ano, foram abertas mais de 800 mil vagas formais (825.004). A indústria, setor que mais sofreu com a crise, com queda na produção de 7,4%, no entanto, ainda precisa criar 157 mil postos para igualar o número de operários que tinha antes da crise.
¿ A indústria se antecipou e queimou muitos postos de trabalho. Ainda há muito a recuperar para atingir o nível de emprego na indústria de julho e agosto. Qualquer aumento de produção agora precisa de contratação ¿ afirmou Clemente Lúcio, diretor técnico do Dieese.
Mas foi justamente a recomposição do quadro de pessoal pela indústria um dos fatores que explicam a alta recorde de emprego formal em janeiro, num sinal claro de retomada, segundo especialistas.
Foram criadas 69 mil vagas na indústria, número também recorde para janeiro.
O resultado do mês passado inverte a forte perda de vagas verificada em dezembro de 2009, quando foram fechados 415.192 postos de trabalho. Em todo o ano passado, foram abertas 995.110 vagas formais no país, pouco menos do que a meta de criação de um milhão de postos do governo. Para este ano, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, estabeleceu um alvo ainda mais alto, de criação de 2 milhões de empregos. Desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram abertas 8,897 milhões de vagas.
¿ O resultado de janeiro sinaliza a plena recuperação da economia e que entramos em 2010 a pleno vapor, principalmente o setor industrial.
Isso demonstra que a área mais afetada no ano passado já está se recuperando ¿ disse Lupi.
Projeção de 221 mil vagas este mês
De novembro de 2008 a janeiro de 2009, o mercado formal só cortou postos de trabalho. Foram 795.515 vagas com carteira assinada perdidas. Foi o pior momento da crise no mercado de trabalho, que reagiu lentamente. A recuperação, refletindo o desempenho da atividade econômica, ficou mais forte no segundo semestre. Na indústria, esse movimento de dispensa foi mais intenso e prolongado.
Os cortes duraram de novembro de 2008 a março de 2009.
Foi meio milhão de vagas fechadas, 63% do total de postos extintos no pior momento da crise.
¿ Esse primeiro semestre será diferente do que acontece normalmente, para responder à melhoria da atividade econômica. E em ano eleitoral, os desembolsos públicos precisam acontecer no primeiro semestre ¿ afirmou Lúcio.
A expectativa do técnico do Dieese é de criação de 1,5 milhão a 2 milhões de vagas com carteira assinada este ano, se a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) for superior a 5%. A LCA Consultores projeta criação de 1,8 milhão de empregos, o que seria o melhor resultado desde 1992. E, neste mês, prevê criação ainda maior de vagas: 221,9 mil.
Dois setores apresentaram reduções no número de empregados no mês. No comércio, foram fechadas 6.787 vagas e, na administração pública, 806. Segundo o ministro Lupi, isso aconteceu devido a fatores sazonais, como fim de contratos temporários no comércio e término do ciclo escolar, quando vários professores se desligam de escolas para mudar de emprego em fevereiro.
Foi o menor número de vagas extintas no comércio nos últimos três anos. Esse indicador foi considerado positivo pelo economista Carlos Henrique Corseuil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
¿ Ficou mais próximo de zero que os outros anos e os serviços também reagiram bem para essa época do ano ¿ afirmou Corseuil.
O estagiário em arquitetura Felipe da Costa Franco teve a carteira assinada em janeiro, com salário 50% maior que o do estágio anterior, trabalhando no Botafogo Praia Shopping: ¿ Aqui tenho mais oportunidade para crescer ¿ diz Franco que ganha R$ 900 por seis horas.
Trabalhando na conservação, Thiago de Souza foi contratado como temporário no mesmo shopping em dezembro e efetivado no início de fevereiro: ¿ Fiquei seis meses trabalhando sem carteira assinada.
Entre os estados, o que mais gerou empregos foi São Paulo (51.159), seguido de Minas Gerais (20.492) e Santa Catarina (19.290). No Rio, foram abertas 4.411 vagas. Em três estados, contudo, houve redução de empregos, devido a fatores sazonais na agricultura: Ceará (-2.254), Alagoas (-913) e Acre (-202).