Título: Desenvolvimento do mercado de grãos ::
Autor: Medvedev, Dimytri
Fonte: Correio Braziliense, 08/06/2009, Opinião, p. 13

Presidente da Rússia e partícipe do Fórum Mundial de Grãos em São Petsburg

Na Rússia, desde tempos imemoráveis o pão considera-se a ¿cabeça de tudo¿. Víveres são principal recurso da vida. A propósito disso, a Rússia está preocupada com a crise alimentar, que continua aguda. São fatores: crescimento da população mundial e a mudança das dietas. Também o desenvolvimento da produção de biocombustíveis a partir de víveres. De março a abril do ano passado os preços de víveres nos mercados internacionais cresceram 55% em um ano, e os preços de arroz na Ásia quase triplicaram.

O aumento dos preços foi golpe duro para os países pobres. As despesas das famílias com a comida variam de 50% a 90%. O número de esfomeados não diminui. São 950 milhões de pessoas. Trata-se não só de baixo consumo de comida, mas da verdadeira fome. No século 21, isso é assustador, A situação permanece explosiva. Problemas dos mercados de víveres não desapareceram. A demanda de produtos alimentares baixou por toda parte. Nos países ricos, houve a simplificação e barateamento da cesta básica. Nos países pobres, agrava-se a fome.

Na contramão do ¿bilhão dourado¿ formou-se um ¿bilhão de esfomeados¿. Cresceu bruscamente a demanda de grãos, cujo fornecimento sustentável e acessibilidade constituem a base da estabilidade econômico-social para muitos países em desenvolvimento. Segundo as previsões dos expertos, o consumo de grãos crescerá 30%/40% até 2030. A comunidade internacional não está protegida contra a volta da crise alimentar. Promissora a ideia da criação da administração de reservas alimentícias. Essa proposta foi aprovada no encontro dos Ministros da agricultura do Grupo-8, em Treviso. A realização não só facilitará o fornecimento de grãos como a ajuda humanitária aos países necessitados, e vai diminuir os riscos no mercado de víveres. É importante chegar a um equilíbrio justo entre o lucro de exportação dos excessos de víveres e o surgimento da ¿síndrome de adaptação¿.

Produção de grãos é o ramo tradicional para a Rússia e o desenvolvimento determina não só a disponibilidade de cereais, mas, também, da pecuária. Sabe-se que a renda do comércio dos grãos forma a maior parte do lucro dos agricultores.

A safra de grãos do ano passado bateu o recorde dos últimos anos ¿ 108,4 milhões de toneladas. Foi atingido pelo apoio financeiro governamental aos agricultores. A Rússia mantém liderança mundial nas áreas das terras agrícolas. Na Câmara de Medidas e Pesos, em Paris, está guardado desde 1889 o metro de platina, o metro cúbico da terra negra da região de Voronezh ¿ padrão da estrutura e fertilidade das terras. Estão concentrados no nosso país quase 40% de todas as áreas de terra negra. As terras russas não utilizadas desde 1991 (quase 20 milhões de hectares) podem voltar a ser exploradas.

A Rússia responde por apenas 5% de todo volume da produção mundial de grãos, tendo, ao mesmo tempo, o recurso de terras lavráveis de pelo menos 14%, e tem o objetivo de realizar potencial agrário rico e elevar a produção de grãos para nível que permita se tornar garantia da segurança alimentar para a humanidade. É possível atingir essa meta, o que indica a volta da Rússia ao clube dos líderes da exportação de trigo. Segundo estimativas, a Rússia vai exportar por volta das 21 milhões de toneladas de grãos a quase 50 países durante a temporada 2008/2009. Trigo alimentar de qualidade tipo soft, utilizado para produção de farinha nos países desenvolvidos ou emergentes, é da maior demanda.

Guardando tecnologias da produção e aumento de grãos, poderemos atingir o volume de 112-115 milhões de toneladas de grão por ano, e 133-136 milhões toneladas adicionais. Em particular, está na agenda a questão da inclusão do fornecimento de máquinas alimentares para o desenvolvimento da produção agrícola. A produção de bens agrícolas só pode ser eficaz quando existe infraestrutura de armazenamento e transporte adequados. Por isso se considera tarefa importante o apoio da infraestrutura. Trata-se da modernização e criação de novos silos, desenvolvimento do sistema de transportes, redes de transportes, mecanismos de transbordo nos portos fluviais e marítimos.

Todas essas questões estão no Fórum Mundial de Grãos em São Petersburgo. Estamos convencidos de que o diálogo aberto resolve muitas questões na área de víveres.