Título: Brasília em ritmo normal, só em 2011
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/02/2010, O País, p. 4

Especialistas veem cenário caótico para Paulo Octávio

O desejo do governador em exercício Paulo Octávio de ¿ser um facilitador para a normalização política e administrativa de Brasília¿ não vai se concretizar, na opinião de Marcelo Simas, cientista político do CPdoc, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, Paulo Octávio não tem legitimidade política para evitar que Brasília fique estagnada.

¿ Todos sabem que existem indícios de que o então vice-governador fazia parte do mensalão do DEM e, por isso, ninguém quer se associar a ele. Sem aliados, Paulo Octávio não conseguirá nada enquanto estiver no governo. Além disso, o DEM pensa em expulsálo da legenda. Sem partido, então, ficará mais difícil.

Professor de ciência política da Universidade de Brasília(UnB), David Fleischer também acredita que Paulo Octávio não terá condições de manter a governabilidade: ¿ Muita gente já recusou participar do governo. Se essa ingovernabilidade continuar, será um sinal para que o Supremo Tribunal Federal decida pela intervenção.

Segundo Simas, mesmo que haja intervenção federal no DF, a chance de a política brasiliense não ficar estagnada até que um outro governador seja eleito é pequena.

¿ Se o presidente do Tribunal de Justiça, por exemplo, assumir o governo, ele também não terá aliados. Talvez consiga promover auditorias, talvez faça com que as contas do governo sejam mais transparentes e até consiga racionalizar os gastos. Mas daí a fazer com que o Distrito Federal não fique estagnado é complicado. Acredito que Brasília só voltará ao ritmo normal quando o próximo governador assumir, em 2011.

Professor de Ética e Política da Unicamp, Roberto Romano concorda com Simas.

¿ O interventor dificilmente conseguirá produzir muito em dez meses, além de governar sem ter sido escolhido pelos eleitores. No entanto, devemos lembrar que o fato de Arruda ser preso é um marco importante para o país.

Para a historiadora Isabel Lustosa, o escândalo do mensalão do DEM deve servir para que o governo repense a autonomia do DF: ¿ O Rio foi capital federal e nunca teve a mesma autonomia política que o DF tem.

Acho que o Distrito Federal deveria representar o país ¿ disse Isabel, que também vê uma mudança no Brasil com a prisão de Arruda: ¿ Nem o carnaval deixou o assunto cair em esquecimento. As pessoas foram às ruas, o sentimento de indignação prevaleceu.

David Fleischer, da UnB, diz que o povo de Brasília está decepcionado.

¿ O brasiliense já perdoou o Arruda uma vez, quando ele era senador. A decepção é grande, mas a memória é curta. O Joaquim Roriz, por exemplo, está à frente das pesquisas para o governo, apesar de ter tido que renunciar ao Senado para não ser cassado.