Título: PT de Minas rejeita tática de Lula
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 20/02/2010, O País, p. 8

Partido resiste à pressão por palanque único para Dilma

BELO HORIZONTE. O PT de Minas não está disposto a sacrificar a candidatura própria ao governo do estado para dar à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, palanque único no estado, como quer o presidente Lula. O presidente do diretório estadual do PT, deputado Reginaldo Lopes, disse ontem não estar convencido de que a base aliada ao Planalto precise de uma chapa de consenso logo no primeiro turno.

Para evitar que a petista se divida entre as campanhas de dois candidatos nas visitas ao estado ¿ o que, nas palavras do presidente Lula, confundiria o eleitor ¿ , a solução seria juntá-los no comício dela.

¿ Quando Dilma estiver em Minas, os nomes do PT e do PMDB podem subir no palanque da ministra. Seriam duas energias a favor. Depois, é cada um para o seu lado ¿ afirmou, citando o exemplo de outros estados, que caminham, sem a mesma pressão da cúpula petista, para o palanque duplo. É o caso do Rio, onde o ex-governador Anthony Garotinho (PR) e o governador Sérgio Cabral (PMDB) devem disputar o Palácio das Laranjeiras pela base aliada.

Lopes lembrou que a resolução do PT para as eleições deste ano prima pelas alianças, mas pondera que as diversidades regionais devem ser respeitadas e prevê, em caso de dois palanques, um acordo entre os candidatos aliados. Ele alegou que não há a necessidade de uma disputa plebiscitária com o vicegovernador Antônio Augusto Anastasia (PSDB), pré-candidato com apoio do governador tucano Aécio Neves. E argumentou que um petista teria mais condições de implantar um projeto de governo com maior participação do Estado na economia e na área social.

Perguntado se um nome do PMDB não poderia assumir esse papel, alfinetou: ¿ Creio que não. Eles não têm identidade com o povo.

São pré-candidatos ao Palácio da Liberdade, pelo PT, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. A disputa rachou a militância. O PMDB lançou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, que é líder nas pesquisas e vem se fortalecendo. Um dos motivos é a divisão no partido aliado.

Recentemente, as duas alas petistas apresentaram o vice-presidente José Alencar (PRB) como um nome de consenso, mas, por ora, ele diz que pleiteia uma cadeira no Senado.

Pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem mostra que Alencar tem 39,9% das intenções de voto para o governo. Costa tem 38,3% ou 40,7%, conforme o cenário.

Em entrevista ao ¿Estado de S.Paulo¿, Lula advertiu que Dilma poderá não subir em dois palanques num mesmo estado. E reclamou que a disputa entre Patrus e Pimentel se tornou uma ¿fissura muito ruim para o PT¿.

Pimentel afirmou ontem que o momento é de os partidos apresentarem nomes e que, mais adiante, todos trabalharão pela unidade.

Mas considerou possível PT e PMDB concorrerem, embora a hipótese seja ¿indesejável¿ e, neste momento, seja difícil prever se haverá ou não prejuízo à campanha presidencial. Sobre as divergências com Patrus, respondeu: ¿ Respeito a opinião dele. A minha é que nunca nos envolvemos em disputa pessoal.

Apoiamos chapas distintas nas eleições internas do partido, eu venci e, do meu ponto de vista, está tudo superado.

As declarações de Lula agradaram ao PMDB, que pleiteia a cabeça de chapa nos estados como compensação ao apoio a Dilma.

O ministro Hélio Costa afirmou que não acredita em dois palanques e que a estratégia pode resultar em derrota nas eleições.

¿ O eleitor mineiro é fiel e não entenderia divisões ¿ justificou, por sua assessoria.

Costa propõe que o candidato seja o melhor colocado em um conjunto de pesquisas, de institutos diferentes, a serem realizadas possivelmente em março.