Título: Lula e PT divergem sobre palanques e alianças
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 20/02/2010, O País, p. 8

Presidente diz que Dilma não participará de campanha de aliados onde base estiver dividida; petistas discordam

BRASÍLIA e SALVADOR. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a presidenciável Dilma Rousseff não deve subir em dois palanques num mesmo estado, durante a campanha eleitoral, provocou a reação de dirigentes dos partidos e até mesmo de candidatos aos governos estaduais. Para eles, Lula manifestou o desejo de um cenário ideal, mas difícil de ser aplicado na prática. Em entrevista ao ¿Estado de S. Paulo¿ publicada ontem, Lula afirmou que é impossível um candidato subir em dois palanques e que, em alguns estados, Dilma não vai poder ir.

Dirigentes do PT defendem, porém, que ela se divida até em casos como o do Rio, onde terá o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB) e também do ex-governador Anthony Garotinho (candidato pelo PR) ¿ este já foi um duro adversário do governo Lula mas hoje está num partido da base aliada.

Para petistas, a própria Dilma é que terá que avaliar caso a caso e a decisão final não será tomada agora, mas em junho, depois das convenções partidárias.

O deputado Ricardo Berzoini (SP), que deixou ontem o cargo de presidente do PT, alertou que é preciso ter ¿paciência¿ na definição dos palanques regionais e disse que nem sempre o presidente Lula e o PT compartilham da mesma posição.

¿ O presidente tem opinião, o partido tem opinião. Há coisas em que temos divergências.

Mas por que vou dizer agora algo que só vai acontecer em junho? ¿ disse Berzoini.

Ele lembrou que, na campanha de 2006, o próprio Lula esteve em palanques duplos e, em outros estados nem apareceu ao lado de candidatos aliados.

Berzoini reafirmou que, no Rio, o apoio de Garotinho a Dilma não será recusado. Mas evitou apontar uma solução para o Rio especialmente depois da forte reação de Cabral ao encontro de Dilma com Garotinho.

¿ Temos que respeitar todos os apoios. No Rio, o Garotinho já declarou que vai apoiar a Dilma. Não vamos recusar esse apoio. Em 2006, o presidente Lula foi em dois palanques em alguns estados, e não foi em alguns em outros. A candidatura Dilma será o resultado de uma coalizão de muitos partidos.

O presidente do PT do Rio, deputado Luiz Sérgio (PT), reforçou a posição de Berzoini: ¿ Quando Lula fala isso está expressando o desejo dele. O fato de desejar um palanque único não significa que vamos recusar apoio. Isso seria uma estupidez política. No Rio, já facilitamos a vida do Sérgio Cabral derrotando o (prefeito de Nova Iguaçu) Lindberg Farias.

O governador Jaques Wagner (PT-BA) também considerou que o desejo de Lula, de unidade entre aliados, é difícil de ser implementado. Ele usou justamente o exemplo do Rio para falar das dificuldades na Bahia: o PT retirou sua candidatura no Rio para um entendimento com o PMDB; mas na Bahia não houve acordo semelhante, já que o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), do PMDB, decidiu entrar na disputa.

¿ Como articulador da campanha de Dilma, o presidente Lula trabalha com aquilo que acha correto: a maior unidade possível nos estados. Mas a decisão final só ocorrerá lá na frente. Agora, no Rio, o PT cumpriu o seu papel, coisa que o PMDB não fez na Bahia, onde teremos dois palanques.

Mas não sou problema: se ela quiser subir nos dois palanques, tudo bem ¿ disse Jaques Wagner, alertando para o risco de Dilma seguir o conselho de Lula: ¿ Não ir em todos os estados com dois palanques será um problema para Dilma.

Candidato ao governo gaúcho, o ex-ministro Tarso Genro mostrou tranquilidade diante da possibilidade de Dilma ter que participar de eventos ao lado do provável candidato do PMDB, o prefeito da capital José Fogaça, e discorda da avaliação de Lula de que é impossível um presidenciável subir nos palanques de dois adversários: ¿ No Rio Grande do Sul não há problema de ter dois palanques e a Dilma subir nos dois. Isso não prejudica em nada uma candidatura do PT (ao governo), mas ajuda a consagrar o apoio que o governo Lula tem no estado. Gostaria que todos os palanques no Rio Grande fossem em torno de Dilma.

Berzoini classificou o caso de Minas Gerais, onde PT e PMDB querem ter candidatos ao governo, como o mais complicado e cuja solução só se terá depois de abril. Mas alerta que a ordem, até lá, é ¿evitar hostilidades¿: ¿ É ter paciência. É como Imposto de Renda: se puder deixar para o último dia...

Pela disposição do ministro petista Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), o entendimento como PMDB em Minas será difícil. Ontem, ele deu mostras de que só abrirá mão da disputa pelo governo se o vice José Alencar for candidato.

¿ Eu estarei onde o Alencar e o Lula estiverem.

Eu apoio o Alencar. Se a candidatura dele se configurar, eu vou reavaliar minha situação.

Ao comentar as declarações de Lula, Geddel Vieira Lima disse que ¿dançará conforme a música¿, e que o assunto deverá ser tratado, brevemente, pela direção nacional do PMDB.

Geddel lembrou que situação semelhante ocorreu na última eleição municipal de Salvador, quando PMDB e PT lançaram candidaturas próprias e o presidente Lula manteve-se neutro, não manifestou preferência por nenhum dos lados.

Na campanha, tanto o deputado Walter Pinheiro (PT), candidato apoiado pelo governador Wagner, e o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), apadrinhado por Geddel, se apresentavam aos eleitores como nomes avalizados por Lula. João Henrique venceu a disputa.

O coordenador da campanha à reeleição de Jaques Wagner, o prefeito de Camaçari, Luiz Carlos Caetano (PT), disse que, se de fato for impossível a ministra Dilma Rousseff subir em dois palanques na Bahia, no de Wagner ela subirá.

¿ O PMDB que vá resolver com o presidente Lula. Nosso lado já está resolvido: somos parceiros históricos do projeto Lula e não colocamos ninguém para fora do governo ¿ assinalou o prefeito, referindose à decisão do PMDB de romper a aliança que tinha com o PT no estado.

Caetano interpreta a fala do presidente Lula mais como uma tentativa de buscar a unidade entre os aliados nos estados.

COLABORARAM: Biaggio Talento e Patrícia França (Agência A Tarde)