Título: Viagem de Lula ao Rio reforça preocupação dos petistas
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2009, Política, p. 8/9

Parlamentares do partido dizem que gritos de ¿Fica, Lula¿ são resultado da insistência peemedebista sobre o 3º mandato. Mas Jackson Barreto recomeça coleta de assinaturas

Os gritos da comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, a favor da permanência do presidente Lula no cargo mostraram o que os petistas já desconfiavam: o debate sobre a possibilidade de abrir uma brecha para o terceiro mandato tem confundido a população sobre o candidato do PT e dificultado a decolagem da candidatura da ministra Dilma Rousseff. Para tentar evitar futuros estragos, os petistas vão articular uma verdadeira ofensiva para que a base aliada enterre de vez a questão. Terão dificuldades. O peemedebista Jackson Barreto (SE), que teve sua Proposta de Emenda Constitucional devolvida depois que a oposição retirou as 15 assinaturas, promete fazer uma nova coleta e reapresentar a matéria. Barreto é incentivado pelo líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN), que em várias ocasiões já afirmou ser um defensor da tese, apesar de publicamente dizer que o debate somente pode prosseguir se tiver o aval do atual presidente.

Barreto insiste que o tema deve ser discutido mesmo contra a vontade de Lula porque diz respeito também à possibilidade de governadores e prefeitos terem direito a duas reeleições consecutivas. ¿Não é um caso isolado. Se o presidente não quer, que não seja o candidato. O que não podemos é ignorar a necessidade de debater esse assunto. Nosso objetivo não tem nada a ver com ajudar ou enfraquecer a Dilma¿, diz. O PT, por sua vez, argumenta que o debate é uma pauta da oposição e interessa apenas aos que tentam atrapalhar a candidatura da ministra Dilma. ¿Acho que isso é um absurdo. Integrantes da base não deveriam insistir nisso porque só atrapalha os planos do nosso partido. Acho que é pura pirotecnia de ambos os lados. Quem apresenta a matéria quer aparecer. A oposição, por sua vez, insiste que somos a favor da tese para confundir as pessoas¿, comenta o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos vice-líderes do seu partido.

Ofensiva A pedido do diretório, os parlamentares petistas ¿ principalmente os 54 que na semana passada assinaram o manifesto reafirmando a candidatura da ministra Dilma ¿ vão receber a missão de convencer os colegas a trabalharem para abortar as manifestações a favor do terceiro mandato. A ideia é tentar convencer integrantes da base que ensaiam alianças com o PT para 2010 de que não há tempo para aprovar a matéria. Além disso, devem ressaltar as poucas chances de a proposta ser aprovada no Senado e dizer que o partido, atendendo ao presidente Lula, não deve mesmo estudar um plano alternativo à candidatura da ministra Dilma.

Das 183 assinaturas de apoio ao projeto de Barreto, 31 eram de petistas. A esmagadora maioria, 46, era de integrantes do PMDB. Em reuniões reservadas, os peemedebistas convergem na ideia de que é preciso garantir a possibilidade do presidente Lula se re-reeleger para o caso de a ministra Dilma não ter saúde para enfrentar uma campanha eleitoral. Ao PMDB não interessa correr o risco de deixar o poder e entrar em uma aliança sem chances de vitória.

As assinaturas de apoio à PEC do terceiro mandato incluíram também oposicionistas: cinco tucanos e dez democratas. Treze deles desistiram de apoiar a matéria depois das pressões das lideranças. As justificativas para tentar explicar o porquê de apoiarem a matéria foram as mais diversas. A maioria disse que assinou sem saber qual era o verdadeiro conteúdo da PEC. Walter Ihoshi (DEM-SP) foi além e disse que não sabe como seu nome foi parar na lista de apoiadores. ¿Fiquei perplexo ao ver meu nome na lista. Nunca assinaria tal documento em sã consciência¿, disse. Para a próxima semana, Jackson Barreto precisa de mais cinco assinaturas.