Título: Direito de todos
Autor:
Fonte: O Globo, 22/02/2010, Opinião, p. 6
Tema em discussão : segurança pública
É opinião unânime que fatores sociais, como baixos investimentos em educação e saúde, têm peso significativo nos índices de violência. A pobreza, as más condições de vida e as limitações de acesso ao saber, ademais de serem abjeções condenáveis em qualquer lugar do mundo, potencializam as condições nas quais floresce a criminalidade.
Negar tal evidência em nada contribui para a busca de soluções para tal flagelo.
Mas espetar na conta desses fatores a fatura da violência é escorregar em enunciados sociologueses.
Se o pressuposto do mero combate à pobreza fosse correto, países de altos índices de desenvolvimento teriam, pela força dos seus indicadores sociais e econômicos, se livrado da criminalidade e de tudo o que dela decorre ¿ aí incluída a violência. E a realidade mostra que o problema é mais complexo, exigindo soluções que passem ao largo do simplismo.
O Brasil, especialmente em suas áreas urbanas, sofre com o pesadelo da violência; e pela urgência das soluções para tão grave problema não pode se vergar a experimentalismos.
A segurança pública é um direito de todo cidadão, independentemente de sua faixa social, e preservá-la passa por medidas que precisam ser adotadas com a coragem e a responsabilidade exigidas das autoridades.
Se é correto estabelecer que programas socioeconômicos ajudam, a médio e longo prazos, a combater a violência, não é menos verdade que, em face da dimensão do problema, a curto prazo devem ser empreendidas também ações mais objetivas.
Entre estas, o aumento do número de prisões daqueles que tenham cometido crimes ¿ a construção de mais presídios, portanto ¿, o combate direto aos criminosos, a retomada, pelo poder público, de áreas subjugadas pela criminalidade, a presença do Estado com serviços que resgatem a cidadania da população mantida à margem da sociedade e, não menos importante, a depuração de organismos policiais contaminados pelo banditismo.
São medidas que podem, e devem, ser adotadas de imediato para suturar uma ferida que, se não for estancada, ameaça comprometer todo o corpo sadio da sociedade.