Título: País unido em torno da questão
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/02/2010, O Mundo, p. 25
Para analistas, o conflito desvia a atenção do caos interno argentino Correspondente
BUENOS AIRES. Em meio à cruzada do governo argentino para obter respaldo internacional em sua disputa com o Reino Unido, o início das explorações petrolíferas a 100 quilômetros das Ilhas Malvinas foi considerado uma ¿agressão unilateral¿ pela Casa Rosada, que pretende reforçar sua ofensiva diplomática. Na visão de analistas ouvidos pelo GLOBO, o conflito com o governo britânico está sendo usado pela presidente Cristina Kirchner para desviar a atenção do caos interno que predomina na Argentina.
De fato, pela primeira vez desde que assumiu o poder, em 2007, a presidente tem a possibilidade de utilizar uma agenda externa que não provoca grandes divisões no país para ofuscar um cenário local cada vez mais complicado. A lista de problemas é longa: inflação; pressão dos sindicatos para elevar salários; partidos opositores que reforçaram seu poder no Congresso; produtores rurais que poderiam voltar a convocar greves e bloquear estradas, e o eterno problema de convivência com o vice-presidente Julio Cobos, um dos principais líderes da oposição.
¿ Esta é uma oportunidade única para o governo, já que a frente interna está complicada e pode ficar ainda mais após março, quando o Congresso retoma as atividades ¿ disse Carlos Fara, da consultoria Fara e Associados.
Na visão de Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, ¿tanto o governo britânico como o argentino vivem momentos de baixa popularidade e um crescimento da tensão em torno das Malvinas pode gerar vantagens internas¿.
¿ Hoje, uma posição firme do governo argentino pode gerar unidade política em relação a uma questão sensível ¿ argumentou Fraga.
Para o analista argentino, ¿conseguir um mínimo grau de unidade política é importante para um governo que perdeu o controle do Congresso e hoje tem menos de 30% de popularidade¿.
Viagem ao México demonstra a importância simbólica das ilhas A viagem ao México mostrou o interesse do governo em elevar o tom da disputa. Há um mês, Cristina cancelou a viagem à China, alegando não poder deixar o Executivo nas mãos de Cobos.
¿ Não fomos à China, perdendo milhões em oportunidades de negócios, mas vamos ao México pedir apoio no conflito. Está claro que o governo entende a importância simbólica das ilhas ¿ explicou Juan Tokatlián, professor de Relações Internacionais da Universidade Di Tella.
De acordo com o analista argentino, ¿a situação atual não pode ser comparada à de 1982 porque, neste caso, a Argentina não tem capacidade de iniciativa, nem consenso para aplicar qualquer tipo de medidas que possam melhorar a imagem do governo¿.
A polêmica plataforma chegou no fim de semana passado e, segundo a imprensa local, poderia permanecer entre seis e oito meses. Os cálculos mais otimistas indicam que a nova plataforma poderia descobrir reservas de petróleo estimadas em 60 bilhões de barris. Os mais pessimistas acreditam que alcançariam 8 bilhões de barris.