Título: Apoio em bloco à Argentina
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/02/2010, O Mundo, p. 25

Cristina tem respaldo de líderes latino-americanos contra exploração britânica de petróleo nas Malvinas Enviada especial ¿ CANCUN, México

No primeiro dia de debates da Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, os chefes de Estado e governo apoiaram a Argentina na disputa com o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas, motivo de guerra entre os dois países nos anos 80. Os participantes também condenaram a exploração de petróleo no arquipélago, que começou ontem.

O apoio regional à Argentina, já aprovado pelos chanceleres dos 32 países que integram a cúpula, foi amplamente debatido na primeira sessão plenária e vai fazer parte do documento final do encontro, que se encerra hoje.

Segundo o chanceler Celso Amorim, os participantes aprovaram a declaração respaldando ¿os legítimos direitos da Argentina na disputa de soberania com o Reino Unido relativa às Ilhas Malvinas¿. Também aprovaram o ¿comunicado especial sobre a exploração de hidrocarbonetos na plataforma continental¿ e destacaram as recomendações da ONU para que os dois países não adotem decisões que modifiquem as ilhas enquanto está sendo negociada a soberania.

¿ Agradeço pelo apoio que recebemos sobre o direito legítimo sobre as Malvinas e por apelar ao Reino Unido que venha à mesa de negociações ¿ disse a presidente Cristina Kirchner. ¿ Aqueles que têm mais poder, aqueles que podem impor suas decisões usam esse privilégio para ignorar a lei internacional. A Argentina vai continuar a trabalhar democraticamente em sua demanda até ter esgotado todos os caminhos para reafirmar a soberania sobre o arquipélago.

Ilhas podem estar sobre grande campo de petróleo

As Malvinas ¿ ou Falklands, como os britânicos as chamam ¿ estão sobre uma plataforma que pode ter até 60 bilhões de barris de petróleo em reservas, segundo algumas estimativas.

A Desire Petroleum PLC começou ontem a perfuração de um poço a cem quilômetros ao norte das ilhas. Para este ano estão planejadas as perfurações de sete poços.

Durante os debates também se manifestaram a favor da Argentina os presidentes do Equador, Rafael Correa; da República Dominicana, Leonel Fernández; da Guatemala, Alvaro Colom; do Chile, Michelle Bachelet; da Bolívia, Evo Morales; e da Venezuela, Hugo Chávez. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não havia se manifestado, embora o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, tenha adiantado que o Brasil apoia a Argentina.

Para Chávez, a instalação da plataforma britânica é ¿uma das mais claras demonstrações do neocolonialismo¿. Na véspera, ele já dissera que a Argentina não estaria sozinha no caso de um ataque britânico.

¿ Rainha da Inglaterra, estou falando com você.

O tempo dos impérios acabou, não percebeu? Devolva as Malvinas ao povo argentino ¿ disse Chávez no programa ¿Alô Presidente¿.

A cúpula representa uma vitória para Cristina.

Segundo a presidente argentina, a questão é ¿um exercício de autodefesa¿ da região.

Em Londres, o premier Gordon Brown afirmou ter adotado ¿todas as medidas necessárias para assegurar que os habitantes das Falklands serão protegidos¿, mas que acreditava que o conflito se resolveria com ¿conversas sensatas¿. O governo negou informações de que teria reforçado o número de militares na ilha.

Por orientação do governo mexicano, os presidentes que participaram da abertura da cúpula vestiam guaiabeira branca ¿ camisa de linho com nervuras usadas por servidores públicos em substituição ao terno. A organização do evento encomendou as guaiabeiras para os chefes de Estado e governo, mas alguns, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o venezuelano Hugo Chávez, preferiram vestir camisas próprias. Lula, pelo menos, seguiu a cor recomendada pelo governo mexicano.

Chávez foi de verde, com camiseta vermelha por baixo.

O presidente do México, Felipe Calderón, destacou a presença do presidente do Haiti, René Préval, e prometeu ajuda dos países latino-americanos e caribenhos para a reconstrução do país após o terremoto.

¿ Somos uma família e, como tal, estamos juntos nos bons e maus tempos ¿ afirmou.

Calderón, que amanhã se reunirá com Lula, defendeu a integração latinoamericana e caribenha, argumentando que juntos os países serão mais fortes.

A integração, segundo ele, exige unidade de ações para garantir maior desenvolvimento e participação na economia e nas decisões do mundo. Os participantes pretendiam ainda discutir a proposta de uma ¿nova arquitetura financeira¿, incluindo o debate para avaliar experiências de moedas comuns.

Com agências internacionais