Título: Para Dirceu, plano de banda larga não vai beneficiar empresário
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 24/02/2010, Economia, p. 18

Segundo ex-ministro, consultoria prestada não teve relação com telefonia

SÃO PAULO. O ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) rebateu ontem a reportagem do jornal ¿Folha de S.Paulo¿, que mostra como o Plano Nacional de Banda Larga poderá beneficiar a Star Overseas, do empresário Nelson dos Santos, a quem ele prestou consultoria.

Dirceu afirmou que não vê constrangimento em prestar consultoria a investidores devido ao fato de ter comandado a Casa Civil.

De acordo com Dirceu, a consultoria foi direcionada a outra empresa de Santos e não envolveu a Eletronet nem o Plano Nacional de Banda Larga. Ele desafiou o jornal a provar como o empresário poderá receber os R$ 200 milhões: ¿ O noticiário é que tem de explicar para a sociedade: como Nelson dos Santos vai receber R$ 200 milhões? Porque isso é impossível: a Eletronet tem dívidas de R$ 600 milhões e teve a falência decretada.

O que ela tem no ativo? As fibras ópticas. Mas a Justiça do Rio decidiu que o governo tenha acesso às fibras ópticas. Não consigo entender quem vai pagar os R$ 200 milhões se, primeiro, será preciso pagar os credores.

Se já tem uma decisão judicial que entrega as fibras para o governo, por que ele compraria? Então, não tem sentido a matéria. Muito menos minha participação.

Ex-ministro teria recebido R$ 620 mil por assessoria O ex-ministro da Casa Civil frisou que nem ele nem o governo podem interferir em uma decisão judicial.

Os credores podem vender os créditos que eles têm a outro grupo privado e levantar falência, mas isso é outro problema. O governo nunca ofereceu ou propôs nada. Pelo contrário, os credores pediram caução e a Justiça não determinou. Então, nem caução existe ¿ afirmou Dirceu.

De acordo com o ex-ministro, a assessoria prestada, que lhe teria rendido R$ 620 mil, referiu-se a investimentos no setor elétrico e de estrutura na América Latina, foi iniciada dois anos depois de Santos comprar a participação na Eletronet (ocorrida em 2005) e se encerrou em setembro de 2009.

Dirceu não quis dar detalhes sobre a assessoria, mas informou que foi para outra empresa de Santos e não envolveu telefonia.

¿ É o que eu faço, sou consultor. E não tem nada a ver com o Brasil, nem com a Eletronet ¿ afirmou.

O ex-ministro argumentou ainda que nunca foi consultado sobre o assunto e negou que atue na área de telefonia no Brasil. Dirceu assegurou também que, mesmo que quisesse, não poderia ajudar seu cliente.

¿ Nem o governo, nem eu, temos como intervir no caso da Eletronet, que está na Justiça.

A Eletronet tem dois credores de R$ 600 milhões. O governo é dono de 49% e conseguiu na Justiça o acesso ao uso da fibra óptica. Então, o governo não tem razão alguma para pagar nada para ninguém. O governo nunca ofereceu nada e nem caução existe. Eu não dava consultoria quando ele fez isso, nunca me consultou sobre isso ¿ afirmou o ex-ministro.

Dirceu também defendeu o governo em relação ao Plano Nacional de Banda Larga: ¿ Ações de empresas oscilam.

Não é porque o governo fala que vai ter uma política para a Eletrobrás que pode ser acusado de estar favorecendo A ou B. Na verdade, existe uma oposição da ¿Folha de S.Paulo¿ ao Plano Nacional de Banda Larga.

Existe uma oposição política e ideológica a várias coisas que o governo faz ¿ afirmou.

`Sempre defendi o governo ficar com as fibras ópticas¿ O ex-ministro disse ainda ter escrito um artigo no jornal ¿Brasil Econômico¿ contrário aos interesses da Eletronet.

¿ É só ler ¿ afirmou. ¿ Eu escrevi um artigo que vai contra os interesses da Eletronet.

Eu defendi uma política que vai contra os interesses da empresa, que é ficar com as fibras ópticas. Sempre defendi que o governo deveria ficar com as fibras ópticas ¿ ressaltou Dirceu