Título: Novo governador defende loteamento de cargos e teria acordo com Arruda
Autor: Carvalho, Jailton de; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 24/02/2010, O País, p. 4

Wilson Lima seria recompensado com indicação para o Tribunal de Contas

BRASÍLIA. O deputado Wilson Lima (PR), que assumiu ontem o governo do Distrito Federal depois da renúncia do governador interino, Paulo Octávio (exDEM), cultiva a fama de humilde e brincalhão, mas nem por isso escapou aos conchavos políticos do grupo do governador afastado e preso, José Roberto Arruda. Segundo aliados de Arruda, Lima fez um acordo com o governador afastado para assumir a presidência da Câmara Legislativa, e depois o governo, com uma exigência: se Arruda deixar a cadeia e voltar ao governo, ele seria indicado para uma vaga no Tribunal de Contas do Distrito Federal.

O Tribunal de Contas é um dos empregos mais cobiçados por políticos em fim de carreira.

Os conselheiros recebem altos salários e têm direito a uma série de mordomias.

Deputado no terceiro mandato, Wilson Lima já foi do PTB e do Prona. Ele diz não ver problemas no inchaço da máquina pública com aliados políticos.

Em entrevista ao GLOBO semana passada, Lima admitiu a indicação de um contingente de mais de 50 afilhados políticos para cargos de confiança no governo Arruda. Para o deputado, a partilha de 3.476 cargos entre aliados do governador era uma prática natural na administração pública.

¿ Não é lotear, é ter consenso.

Ajudamos a eleger e vamos governar juntos. O governo precisa ter nomes com competência, dispostos a trabalhar. Todo governo é assim. São acordos políticos. É assim em nome da governabilidade ¿ disse Lima.

Autointitulado de ¿fofinho¿, o deputado Lima era um ilustre desconhecido até o início deste ano, quando, com a ajuda de aliados do governador afastado, chegou ao mais alto posto do Legislativo local. Católico praticante, Lima é casado há 31 anos e alardeia aos quatro cantos que se orgulha de ser fiel à esposa. Frequentador assíduo de sua paróquia, no Gama (cidade-satélite de Brasília), ele é membro da Pastoral da Família. Entre os colegas deputados, Lima ganhou o apelido de ¿ursinho de pelúcia¿ por sua suposta ¿ternura¿.

¿ Sou fofinho. Posso não agradar a todos, mas sou casado com a minha esposa e fiel há 31 anos ¿ disse, em entrevista ao ¿Correio Braziliense¿.

A entrevista foi concedida quinta-feira da semana passada, quando o vice Paulo Octávio, antes de voltar atrás, prometera renunciar.

Na ocasião, sem saber que Paulo Octávio recuaria da renúncia, Wilson Lima recebeu dois repórteres do jornal de Brasília com a certeza de que iria assumir interinamente o governo do DF ainda naquele dia. Disse que faria um governo de coalizão, que escalaria uma equipe técnica para ajudálo na missão e até escolheu o Palácio do Buriti para despachar.

Já Arruda tinha como sede de seu governo um escritório montado em Taguatinga e chamado de Buritinga.

Entre os colegas deputados, Wilson Lima é conhecido por sua lealdade a Arruda. Certa vez, quando a deputada Érika Kokay (PT) discursava contra o governador afastado, dizendo que ele era um ¿governador de plástico¿, Lima cortou o microfone da colega e mandou retirar das notas taquigráficas da Câmara seu discurso.

De origem humilde, Lima já vendeu picolé, foi frentista, lanterneiro, balconista e cobrador de ônibus, entre outros empregos, até virar dono de supermercados no Gama, cidade-satélite de Brasília.

No governo Roriz, foi subsecretário de Alimentação e Promoção Social.

O deputado não tem nível superior, mas diz que não considera a conclusão de uma faculdade como algo fundamental.

¿ Não faz diferença, não. A faculdade da vida ensina muito a gente. Entendo um pouco de Direito e engenharia. Faço um prédio acontecer de baixo até em cima ¿, disse na entrevista ao jornal local