Título: A ONU tem pouco mais a fazer
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 28/05/2009, Mundo, p. 30

Às Nações Unidas, resta pouco além de construir um consenso internacional contra os desafios seguidos do regime comunista da Coreia do Norte. A história de seis décadas da organização é pródiga em exemplos de inação ou mera acomodação a fatos consumados. Foi a ponte aérea anglo-franco-americana para Berlim Ocidental, e não alguma resolução da ONU, que selou a divisão da Alemanha no pós-Segunda Guerra, assim como passou longe do edifício de Nova York o processo que culminou na reunificação, em 1990, um ano depois da queda do Muro de Berlim.

A ONU não chega a ser ¿irrelevante¿, como ousou profetizar George W. Bush ao ignorá-la e invadir o Iraque, em 2003. Mas, no impasse atual com a Coreia do Norte, restam ao Conselho de Segurança poucas opções além do cardápio de medidas já adotadas. Será sempre possível acentuar o regime de sanções econômicas, mas, embora não seja indiferente à pressão, o regime de Kim Jong-il está adaptado ao isolamento. Tampouco ameaças de ordem militar terão significado prático, a menos que encampadas por uma potência do porte dos Estados Unidos ¿ e, mesmo assim, é difícil imaginar um ataque às instalações nucleares norte-coreanas sem a anuência (no mínimo) de Moscou e Pequim.

Diante do fato consumado dos arsenais nucleares (e mísseis correspondentes) da Índia e do Paquistão, sem falar no poderio atômico que Israel não desmente ter, a queda de braço entre a comunidade internacional e Pyongyang parece referendar uma conclusão para a qual o regime de Irã já atentou: entrar para o clube da bomba, pela porta dos fundos ou pulando o muro, é o salvo-conduto contra qualquer punição efetiva, como demonstra o exemplo contrário do Iraque de Saddam Hussein.