Título: Cerco se fecha no DF
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 25/02/2010, O País, p. 3

Câmara investigará deputados; comissão analisa amanhã impeachment de Arruda

BRASÍLIA

O corregedor da Câmara Legislativa, deputado Raimundo Ribeiro (PSDB), pediu ontem que a Comissão de Ética da Casa abra investigação contra nove deputados, oito deles acusados de envolvimento no mensalão do DEM, supostamente chefiado pelo governador afastado José Roberto Arruda. Na lista de parlamentares a serem investigados está até o presidente interino da Casa, Cabo Patrício (PT).

O cerco também se fecha contra Arruda. Amanhã a comissão especial vota o pedido de impeachment do governador. Segundo o presidente da comissão, Cristiano Araújo (PTB), o governador afastado e preso tem até segunda-feira para renunciar sem perder seus direitos políticos.

O deputado Chico Leite (PT) apresentará relatório pela cassação do mandato de Arruda amanhã e, pelos cálculos dos parlamentares, a comissão aprovará com folga o parecer. Caso a previsão se confirme, Araújo disse que segunda-feira notificará Arruda. A partir de então, mesmo se renunciar ao cargo de governador, Arruda estaria sujeito à cassação e à perda de direitos políticos por pelo menos oito anos. Até então, os parlamentares estavam em dúvida se o prazo para a renúncia contaria a partir da votação do relatório de Chico Leite ou da notificação.

¿ É a partir da notificação que se começam a contar os prazos formais.

E, sendo aprovado o relatório sextafeira, na segunda temos condições de notificar o governador. Aí não tem mais como renunciar ¿ disse Araújo a um de seus auxiliares.

Após analisar o pedido de impeachment de Arruda, a Câmara também terá que decidir se abre investigação contra o presidente interino da Câmara e mais oito deputados denunciados pelo corregedor Raimundo Ribeiro.

Segundo Ribeiro, Cabo Patrício foi acusado por um cidadão de apresentar um projeto para beneficiar empresas do ex-presidente da Câmara Leonardo Prudente (ex-DEM) em licitações do governo local. O projeto foi aprovado pela Câmara. Ribeiro disse, porém, que não tem condições de dizer se as acusações são procedentes.

¿ Nessa fase inquisitorial, na dúvida se decide em favor da sociedade.

E a sociedade tem direito à apuração das denúncias. Aqui estamos julgando apenas a admissibilidade da investigação ¿ disse Ribeiro.

Câmara: quase metade sob suspeita

Ribeiro pediu a apuração das denúncias contra os deputados Leonardo Prudente (sem partido), Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC), Benício Tavares (PMDB), Benedito Domingos (PP), Rogério Ulysses (ex-PPS), Rôney Nemer (PMDB) e Aylton Gomes (PRP) ¿ todos acusados de se beneficiar das mesadas distribuídas por Arruda a partir da cobrança de propina de empresas com contratos no governo local. Prudente foi flagrado escondendo dinheiro nas meias e no paletó.

Nos vídeos gravados pelo ex-secretário Durval Barbosa, testemunha-chave do mensalão, Eurides Brito aparece enfiando pacotes de dinheiro numa bolsa. Júnior Brunelli se abraça a Durval e a Leonardo Prudente e agradece a Deus supostamente pelo dinheiro recebido do ex-secretário. Benedito Domingos é acusado de receber R$ 4 milhões para apoiar a candidatura de Arruda.

Os demais não tiveram imagens gravadas, mas são acusados por Durval de receber a mesada.

Ribeiro acredita que, apesar das dificuldades internas, a Comissão de Ética, formada por cinco deputados, aprovará a abertura de investigação contra os deputados. A queda de braço não será fácil. O número de deputados sob suspeita é quase a metade do contingente da Câmara, formada por 24 parlamentares.

Ontem, o governador interino Wilson Lima (PR), que deixou a presidência da Câmara para assumir o cargo depois da renúncia do vice Paulo Octávio, reuniu-se com os secretários numa tentativa de retomar as atividades normais da administração.