Título: Gushiken também participou das discussões
Autor: Batista, Henrique Gomes; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 26/02/2010, Economia, p. 28

Pinguelli, que presidia a Eletrobrás em 2003, diz que rede da Eletronet virou "assunto estratégico"

RIO e SÃO PAULO. A decisão de usar a rede de fibra óptica da Eletronet para um programa de banda larga foi discutida no governo pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o então ministro das Comunicações e atual deputado federal, Miro Teixeira (PDT-RJ), e, ainda, Luiz Gushiken, que na época ocupava a secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica do governo. O assunto começou a ser discutido em 2003, segundo o presidente da Eletrobrás à época do pedido da falência da empresa, Luiz Pinguelli Rosa: ¿ Mas logo no início eu e Miro saímos do governo e a discussão ficou com o ministro Luiz Gushiken, que tratou o assunto de forma estratégica.

Ele lembra que a Eletronet sempre foi um problema para o governo. Devido ao abandono da AES, a empresa, na qual o governo tinha participação minoritária, teve que resolver o problema da sua dívida, de R$ 600 milhões. Segundo Pinguelli, o pedido de falência com continuidade das operações, decidido pela diretoria da Eletrobrás, foi a melhor solução possível. Ele argumenta que não seria justo o governo se comprometer com a dívida, tomada pela AES: ¿ Havia uma grande rede com uma ociosidade enorme, alertei Dilma e Miro que poderíamos fazer algo com esta rede.

Miro Teixeira diz que chegou a promover reuniões com empresas de TV por assinatura para criar uma grande rede de banda larga: ¿ A ideia era usar a rede da Eletronet e parte das redes de Furnas e até da Petrobras.

Ele afirma que não sabe o que houve com o projeto depois que saiu do governo, mas Pinguelli diz que o assunto foi para Gushiken.

Pinguelli diz ainda que o exministro José Dirceu provavelmente sabia das negociações: ¿ É bastante difícil que ele, no governo, não soubesse.

Gushiken: `Zé Dirceu não tem nada a ver com isso¿ A assessoria de imprensa de José Dirceu disse que ele estava incomunicável e que não poderia dar entrevista. Entretanto, voltou a afirmar que o ex-ministro jamais tratou da eventual retomada da rede da Eletronet pelo governo com Nelson dos Santos, dono da Star Overseas e sócio da Eletronet. Segundo a assessoria do ex-ministro, o fato de Dirceu saber previamente do interesse do governo de usar a rede não muda nada, pois o objetivo da consultoria eram negócios no exterior da Star Overseas.

Luiz Gushiken afirmou ao GLOBO ontem que desde o início viu ¿potencialidade¿ na rede de fibras ópticas da Eletronet e que seu esforço foi no sentido de costurar uma administração compartilhada da empresa, juntando setor público e privado.

Na época (2003), disse ter chamado para conversar, entre outros, os executivos da LightPar, que detinha o controle da empresa.

Gushiken diz ainda que não conhecia o empresário Nelson dos Santos e que José Dirceu está sendo envolvido injustamente no caso.

¿ Quem começou a tocar esse assunto foi eu. O Zé Dirceu não tem absolutamente nada a ver com esse tema ou com todos os protagonistas que estão sendo anunciados hoje, e que são os mesmos da época.

Gushiken disse que, após discussões sobre o uso da rede da Eletronet, ele encaminhou o assunto ao ministro Silas Rondeau Silva, que assumiu a pasta de Minas e Energia em 2005, após Dilma ir para Casa Civil.