Título: Para Febraban, compulsório maior não substitui alta de juros
Autor: Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 26/02/2010, Economia, p. 25

Ministro da Fazenda não acredita que medida do BC prejudique a oferta de crédito no país

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO.

As medidas para enxugar a liquidez, com ampliação do recolhimento compulsório dos bancos, não serão suficientes para controlar a expansão do crédito na economia: o Banco Central (BC) ainda terá de subir os juros básicos. A avaliação é de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, entidade que reúne os bancos brasileiros.

Segundo ele, ainda existe uma folga na ampliação de crédito que terá que ser corrigida com o aumento da Selic, hoje em 8,75% ao ano: ¿ Não acho que essas medidas (sobre o compulsório) sejam uma substituição ao ajuste nos juros que o governo terá que fazer mais à frente.

Na quarta-feira à noite, o BC anunciou mudanças nas regras do compulsório, que resultarão no enxugamento de R$ 71 bilhões no mercado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que isso não deve afetar a oferta de crédito nem elevar os juros cobrados pelos bancos. Ele considerou a medida adequada, dizendo haver excesso de liquidez no país. Mantega lembrou que os bancos estavam aplicando R$ 600 bilhões em operações compromissadas todos os dias. Esses recursos são sobra de caixa, que não foi destinada a empréstimos a clientes nem a outros bancos.

Sardenberg afirmou que a decisão do BC vai elevar o custo dos financiamentos e reduzir a concorrência entre os bancos. Para os economistas do Itaú Ilan Goldfajn e Guilherme da Nóbrega, os compulsórios tiveram papel importante na estabilização da economia na época em que a inflação ainda era altíssima, mas causaram distorções no mercado de crédito.

A decisão do BC fez com que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuasse 2,07% pela manhã. Também pesaram dados americanos e o temor de aprofundamento da crise grega.

Mas o Ibovespa se recuperou e fechou em alta de 0,50%, aos 66.121 pontos, com volume de negócios de R$ 6,2 bilhões. O dólar avançou 0,23% a R$ 1,831. Resultados melhores que o esperado das siderúrgicas beneficiaram Usiminas ¿ os papéis ON, com direito a voto, subiram 5,81% ¿ e Gerdau, cujas ações PN (sem direito a voto) avançaram 4,02%.

Em Nova York, também houve melhora ao longo do dia, mas os índices fecharam no negativo. O Dow Jones, que chegou a recuar 1,81%, encerrou em queda de 0,51%, enquanto o Nasdaq caiu 0,08% e o S&P500, 0,21%. Os pedidos de seguro-desemprego tiveram alta e 22 mil na semana passada, para 496 mil. A expectativa era de queda. (Lino Rodrigues, Martha Beck e Mariana Schreiber)