Título: Na mira da oposição
Autor: Brito, Ricardo; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2009, Política, p. 2

Responsável pelos patrocínios da Petrobras, o petista Wilson Santarosa, gerente-executivo de Comunicação Institucional da empresa, transforma-se no alvo principal dos adversários do Planalto

Santarosa: petista histórico e no cargo da Petrobras desde o início do governo Lula À cata de denúncias para impulsionar a CPI da Petrobras, a oposição escolheu um personagem-símbolo para começar a abrir o que considera a caixa-preta da estatal: a área comandada por Wilson Santarosa. Petroleiro desde 1975, Santarosa é um petista histórico que, desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, ganhou o cargo de gerente-executivo de Comunicação Institucional. O homem responsável por cuidar de um orçamento estimado em R$ 1 bilhão em patrocínios, comunicação, repasses a organizações não governamentais e incentivos culturais virou a bola da vez da investigação que os adversários do Planalto querem imprimir.

O pedido de criação da CPI foca em dois principais pilares. De um lado, os contratos bilionários com fornecedores da estatal, inclusive no exterior. De outro, os gastos com comunicação e cultura. A oposição avalia que mirar nos negócios sob a influência de Santarosa será mais cômodo e produzirá resultado mais imediato, frente à complexidade dos megacontratos da empresa, regidos por legislação especial. Com essa estratégia, evitam ainda, em ano pré-eleitoral, remexer na principal fonte de recursos de campanha: as grandes empresas do país.

Para justificar a criação de uma CPI, a oposição sustenta haver direcionamento político nos convênios firmados pela Petrobras. Parte desses convênios é patrocínio realizado pela Gerência de Comunicação Institucional. Exemplo disso foi o incentivo destinado a prefeituras da Bahia para a promoção de festas de são-joão. Os recursos foram canalizados por meio de uma ONG controlada por petistas. A estatal nega qualquer favorecimento político e argumenta que o repasse tem como objetivo promover a marca da empresa.

Desde 2004, o TCU abriu sete processos para investigar supostas irregularidades em gastos da área comandada por Santarosa. A maioria dos pedidos de apuração partiu de parlamentares de oposição que questionam os critérios de repasses.

Dossiê Santarosa foi envolvido em 2006 no escândalo do dossiê fajuto comprado por petistas para atacar a campanha de José Serra (PSDB) ao governo paulista ¿ caso que ficou conhecido como o escândalo dos aloprados. Ao analisar o sigilo telefônico de Hamilton Lacerda, ex-assessor do comitê de Aloizio Mercadante (PT), a Polícia Federal identificou ligações entre Lacerda e Santarosa em datas próximas à negociação do papelório. A suspeita levantada pela PF era de que dinheiro de fornecedores da estatal sob a influência de Santarosa bancou a documentação, comprada por R$ 1,7 milhão. As investigações da PF, entretanto, não foram adiante.

A CPI estuda retomar esse fio solto. Procurado pelo Correio, o senador Álvaro Dias (PSDB) confirmou. ¿É fato determinado desta CPI investigar patrocínios e publicidade¿, afirmou. ¿Portanto, a gente pode retomar essa apuração, sim¿, declarou. Por meio da assessoria de imprensa, o executivo da Petrobras disse que conhece Lacerda e que o caso já foi ¿apurado e encerrado, não tendo sido nunca intimado ou citado durante o processo¿.

Santarosa tem influência no Planalto e no Congresso. Volta e meia, vem do Rio de Janeiro para Brasília para discutir políticas de investimentos de sua área com o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins. Durante a sua gestão, segundo petistas que têm trânsito na área, foi unificada uma boa parte dessas verbas de patrocínio e publicidade. No Congresso, vale-se do seu braço-direito Carlos Figueiredo, do escritório da Petrobras na capital, para repassar recados para parlamentares. ¿O Carlos cuida dos projetos de interesse da estatal no Congresso¿, afirma o senador Tião Viana (PT-AC).

Um segundo motivo leva os oposicionistas a mirarem em Santarosa. Ele é presidente do Conselho Deliberativo do Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Atualmente a Petros está em segundo lugar em patrimônio no país, segundo a associação das entidades do setor, com R$ 39 bilhões. Seu nome chegou a aparecer nas investigações da CPI dos Correios, como próximo do ex-ministro Luiz Gushiken, influente na área e que deixou o governo durante o escândalo político deflagrado em 2005.