Título: Os meios e as mensagens
Autor: Motta, Nelson
Fonte: O Globo, 26/02/2010, Opinião, p. 7

Se é preciso democratizar as comunicações no Brasil, como quer o programa de governo do PT, é porque elas não são democráticas, concluiria o Conselheiro Acácio.

Mas aqui qualquer um pode abrir um jornal, uma rádio ou uma emissora de TV, dependendo de seus recursos para montar e manter o veículo.

E de sua capacidade de conquistar audiência.

Com a infinidade de canais que hoje o mundo digital oferece, é fácil para qualquer sindicato, ONG ou movimento social ter o seu canal de televisão.

O difícil é ter espectadores.

Na internet, ninguém precisa de nenhuma autorização, ou de muito dinheiro, para botar no ar sua rádio, jornal, revista ou televisão ¿ basta ter competência e audiência. O que pode ser mais democrático do que isto? Não é por falta de democracia que as esquerdas não conseguem fazer um veiculo de massa de sucesso popular, mesmo com todas as verbas e a ¿vontade política¿ oficial. O último foi o ¿Pasquim¿, menos por ser de esquerda do que por ridicularizar a ditadura que oprimia a todos.

Alguém duvida que a Globo, a Record, a Band, a Rede TV e o SBT disputam cada centavo do mercado, cobrando por cada espectador conquistado? Dezenas de canais a cabo não competem ferozmente por assinantes e anunciantes? Os jornais não estão disputando leitores nas bancas e on-line? Não há livre concorrência? Então que monopólio é esse que eles querem acabar? Por que ninguém vê a TV Brasil? Por que ¿A Voz Operária¿ é menos lida do que ¿O Estado de S. Paulo¿? Por que a ¿Carta Capital¿ só tem uma fração dos leitores da ¿Veja¿? Não se trata de quem é melhor ou pior, é só uma livre escolha do público.

E nas escolhas democráticas, às vezes, a maioria está errada, mas o que fazer, acabar com a democracia? Ou com a maioria? Quem sabe, com o tempo e mais governos petistas, os brasileiros ganhem educação, consciência política e bom gosto e façam da ¿Voz Operária¿, da TV Brasil e da ¿Carta Capital¿ campeões de audiência ? Já em Cuba, na Coreia do Norte, na Venezuela e no Irã, quem falar em democratizar as comunicações vai preso.

Porque lá elas já estão democratizadas, concluiria o Conselheiro.

NELSON MOTTA é jornalista.