Título: Tsunamis espalharam destruição pela costa
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Fonte: O Globo, 01/03/2010, O Mundo, p. 27

Autoridades admitem erro por subestimar ondas, que chegaram a 10 metros. Moradores fogem para colinas

MORADORES caminham pelos escombros em Dichato (acima, à esquerda), onde carros e ônibus foram soterrados (acima). Ao lado, a vista aérea da cidade

SANTIAGO. Não bastasse terem sofrido um dos maiores terremotos da História, as cidades costeiras do Chile acumularam um desastre a mais: tsunamis geradas após o tremor em terra devastaram localidades inteiras, transformando o cenário num mar de barro e escombros, com barcos no meio da rua e carros virados em cima de telhados destruídos. Edifícios que já tinham sido danificados com o tremor acabaram indo abaixo. E o que restou de pé apresenta agora sérios danos estruturais.

¿ O centro está em ruínas e o porto, em pedaços ¿ afirmou ao jornal chileno ¿La Tercera¿ o prefeito de Talcahuano, Gastón Saavedra.

Água avançou até um quilômetro terra adentro

O ministro da Defesa, Francisco Vidal, admitiu que houve um erro das autoridades por descartarem, inicialmente, as tsunamis na costa do Chile. Logo após o terremoto, na madrugada de sábado, a presidente Michelle Bachelet descartou a ocorrência de tsunami na costa chilena e pediu calma à população, mas ondas gigantes varreram uma ampla zona costeira das regiões de Maule e Bío Bío, próximas ao epicentro do tremor.

¿ (A Marinha) cometeu um erro de diagnóstico ao não alertar para a tsunami. Mas, por sorte, foi ativado um sistema que a própria unidade tem e isto ajudou a salvar centenas, talvez milhares de pessoas ¿ disse Vidal, após uma reunião do comitê de emergência, realizada no Palácio de La Moneda. ¿ Com este sistema, apesar do erro de diagnóstico, foi possível avisar a população, que subiu para as colinas. Sem este aviso, teríamos que lamentar mais vítimas.

Em Constitución, cinco ondas de 10 metros de altura terminaram de arrasar a cidade. De 60 mortos contabilizados até ontem, 75% tinham falecido com a passagem das tsunamis.

Talcahuano, a 16 quilômetros de Concepción, uma das mais afetadas, registrou ondas de até cinco metros. Barcos foram parar em cima do que antes era um centro comercial, arrastando casas e carros pelo caminho.

A cena se repetiu na maioria das localidades na zona costeira de Bío Bío. Em Dichato, balneário a meia hora de Tomé, três ondas gigantes destruíram 80% da cidade de 7.000 habitantes. Até o carro da polícia foi arrastado pelo mar.

¿ O mar avançou mil metros sobre o interior do povoado, e onde antes havia casas, agora há embarcações ¿ disse o prefeito Eduardo Aguilera.

Às 5h30m, enquanto parte dos moradores fugia em pânico para áreas de montanha, outros entravam em desespero ao constatarem o tamanho do estrago.

¿ Vivíamos da pesca e perdemos tudo. Do que vamos viver agora? ¿ lamentou o pescador José Castillo, com um facão na mão e um pequeno saco de pertences na outra.

Bachelet informou ontem que pelo menos 541 mortos estão na região de Maule (cerca de 300 quilômetros ao sul de Santiago), cuja área costeira também foi varrida por uma tsunami. Pelo menos oito das vítimas estavam no arquipélago de Juan Fernández, a 600 quilômetros do litoral, entre eles um turista espanhol.

Ontem, autoridades confirmaram a morte de 350 apenas na cidade costeira de Constitución, também atingida por uma tsunami. A cidade pesqueira, a 350 quilômetros da capital, teve casas destruídas e barcos grandes ilhados por escombros. Na cidade de Pelluhue, o cenário era parecido, com barcos em cima das casas. Em Llo Lleo, a 98 quilômetros de Santiago, duas pessoas morreram após a passagem das ondas.

Já em Tirúa, o estrago foi agravado pelo rompimento dos canos das estações de tratamento de água e de esgoto.