Título: O Uruguai precisa que o Mercosul funcione bem
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 01/03/2010, Economia, p. 23
Novo ministro cobra liderança que inclua países menores
FERNANDO LORENZO: desafio é melhorar acesso a outros mercados
O economista Fernando Lorenzo, escolhido como ministro da Economia do Uruguai, diz que não questionará a estratégia de longo prazo e sim a maneira como as coisas estão sendo feitas no Mercosul. Ele explicou os motivos pelos quais nos últimos anos seu país - que terá a partir de hoje um novo presidente, José Mojica - manifestou uma crescente insatisfação em relação ao bloco. Para Lorenzo, a liderança do Brasil deve estar a serviço do Mercosul.
O que pensa o novo governo sobre o Mercosul?
FERNANDO LORENZO: Não imaginamos não ser parte do Mercosul. Nesta região estão nossos principais sócios comerciais. Nossa indústria turística tem como destino Brasil e Argentina. Em vários negócios industriais, agropecuários, de serviços, ambos países são nossos principais mercados. Mas cerca de 75% de nossas exportações de bens têm como destino países de fora do Mercosul. Temos como desafio conseguir melhorar nosso acesso a outros mercados regionais. Por isso, precisamos que as negociações na Organização Mundial de Comércio avancem e também com outros blocos.
O acordo com a União Europeia (UE) é muito importante para o Uruguai...
LORENZO: Claro, temos grandes expectativas nesse sentido. Trabalhamos intensamente nos últimos meses para retomar e encerrar as negociações com a UE. O Uruguai precisa que o Mercosul funcione bem e não está funcionando bem. Questionamos as assimetrias criadas pelas políticas econômicas que estão sendo adotadas pelos países do bloco, sobretudo os sócios maiores.
O senhor se refere a barreiras protecionistas?
LORENZO: São sucessivas barreiras: à bilateralidade (entre Brasil e Argentina) no processo de resolução de problemas, as não tarifárias, a falta de uma solução para o problema da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), as políticas de incentivos nacionais no Brasil e na Argentina que não favorecem o mercado ampliado do Mercosul. O Uruguai tem uma economia aberta e um terço de nossas exportações são de serviços turísticos, software, serviços profissionais, somos uma plataforma de prestação de serviços para o exterior. Temos uma economia internacionalizada e pequena, por isso precisamos ter em nosso horizonte mercados mais amplos.
Por que Brasil e Argentina não estão atendendo as demandas dos sócios menores?
LORENZO: Estamos num momento no qual existem divergências entre os países do bloco em relação às estratégias de desenvolvimento. O Mercosul é um clube e todos temos de estar de acordo para que esse clube funcione e avance. Nós precisamos que o Brasil exerça sua liderança na região. Uma liderança que inclua os interesses das economias pequenas e que ajude a região. A economia brasileira é dinâmica, diversificada e importante para o mundo. Nós, como país pequeno, valorizamos e reconhecemos esse fato. Mas isso deve estar a serviço do Mercosul.