Título: Filho de Renan é fantasma no gabinete de deputado
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 04/06/2009, Política, p. 4

Rodrigo Calheiros foi contratado para trabalhar na Câmara por Anibal Gomes, aliado do líder peemedebista. Mas não aparece no trabalho. Anibal Gomes, do PMDB do Ceará, contratou o filho de Renan por um salário de R$ 4 mil Deputado de trânsito livre no PMDB, Aníbal Gomes (CE) foi um dos grandes defensores do atual líder da legenda no Senado, Renan Calheiros (AL), quando o alagoano enfrentou os processos de cassação de mandato. Mas as provas de coleguismo não ficaram por aí. Desde abril do ano passado, o deputado abriga em seu gabinete o filho caçula do colega. Rodrigo Rodrigues Calheiros tem 25 anos, ainda cursa faculdade e não costuma comparecer ao serviço, segundo relato dos funcionários do gabinete.

Rodrigo é lotado no mais alto cargo de gabinete: o de secretário parlamentar 28, cujo salário é de R$ 4 mil. A vaga não obriga o funcionário a bater ponto e não exerce qualquer controle sobre a frequência e presença dos servidores. Ao ser questionado sobre a função ¿ e a ausência ¿ do filho do senador ao trabalho, Aníbal Gomes dá uma explicação confusa. ¿Ele trabalha. Ele não foi encontrado porque faz serviços externos para mim. Vai a ministérios e outras coisas do tipo. Mas nós vamos ajustar o horário dele aqui na Câmara. O problema é que ele faz faculdade. Temos que ver como faremos esses ajustes.¿

Apesar da ausência na Câmara, Rodrigo Calheiros tirou férias no mês passado. Ao completar um ano da sua entrada no cargo, o que aconteceu em 8 de abril de 2008, o filho do senador pediu férias e engordou a conta bancária com um terço do salário.

Idas e vindas O histórico da contratação de Rodrigo Calheiros na Câmara tem demonstrações claras das negociações do senador para arrumar um emprego para o filho. Em 3 de abril ele foi nomeado para um cargo de confiança na liderança do PMDB da Câmara. O CNE -9 pagava cerca de R$ 7,5 mil, mas esse tipo de vaga exige a assinatura de ponto de frequencia e consta na lista dos funcionários da Câmara divulgada na internet. O problema foi resolvido oito dias depois, quando foi publicada a nomeação de Rodrigo em um cargo de secretário parlamentar 27 já no gabinete Aníbal Gomes. Apesar de pagar menos do que a vaga da liderança, cerca de R$ 3,3 mil, o novo cargo tem a vantagem de não exigir a assinatura do ponto e de não ser divulgado na internet. Depois de acumular por alguns dias os dois cargos, um ato da direção-geral anulou a nomeação do filho do senador na liderança do partido e o manteve no gabinete. Um mês depois Aníbal Gomes promoveu Rodrigo a SP-28, cargo ocupado por ele atualmente.

A reportagem procurou o servidor durante quatro dias em horários diferentes. Ninguém no gabinete sabia informar onde e quando Rodrigo poderia ser encontrado na Câmara dos Deputados. Ele não retornou aos recados da reportagem.