Título: Presidente do BC afirma que eleições não impedirão decisões impopulares
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/02/2010, Economia, p. 24
Henrique Meirelles indica que juros básicos podem ter alta "no curto prazo"
BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deu um sinal claro de que a autoridade monetária está a um passo de elevar os juros básicos da economia. Ele afirmou ontem que, poderá tomar medidas que, ¿no curto prazo¿, possam ser impopulares. Segundo ele, nem mesmo as eleições poderão impedir que o BC adote esse caminho. As declarações acontecem dois dias depois de o BC aumentar os compulsórios bancários, retirando da economia R$ 71 bilhões, o que para alguns analistas, poderia adiar a decisão de aumentar a Taxa Selic.
As expectativas do mercado são de que a Selic ¿ hoje em 8,75% ao ano ¿ será elevada em março ou em abril, a fim de combater a inflação.
¿ Atuar de forma consistente significa também não evitar decisões tecnicamente justificadas que, no curto prazo, possam parecer antipáticas ou impopulares, mas que visam, sim, ao bem comum ¿ afirmou Meirelles ontem, na posse do novo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Carlos Hamilton Araújo.
Meirelles: mercado deve se ater aos documentos do BC O presidente do BC também defendeu que a autoridade apenas fala por meio das atas do Comitê de Politica Monetária (Copom) e nos relatórios trimestrais de inflação. Mais: que, diante disso, o mercado tem de analisar os ¿documentos oficiais, bem como pronunciamentos de autoridades monetárias pelo que está escrito ou dito e não pela interpretação de agentes econômicos, analistas ou jornalistas¿.
¿ Portanto, enganam-se aqueles que esperam mudanças na conduta do BC em função do calendário cívico ¿ disse o presidente do BC.
Em entrevista ao jornal ¿Valor Econômico¿ publicada ontem, Meirelles disse que o aumento dos compulsórios ¿ parcela dos recursos captados pelos bancos que fica depositada no BC ¿ foi adotado para equilibrar a liquidez do sistema financeiro nacional, ao passo que a Selic é o instrumento para combater a inflação.
Porém, ele reconheceu que a mexida nos compulsórios terá efeito de política monetária.
Na avaliação de parte dos analistas, Meirelles, na entrevista, teria deixado em aberto a possibilidade de a medida adiar a esperada elevação dos juros.
¿Para o controle específico de liquidez em alguns momentos, o recolhimento ou liberação de compulsórios, como fizemos em 2008, é um mecanismo extremamente eficaz.
Portanto, a decisão de compulsório teve em vista questões de liquidez. Não há dúvidas, porém, de que ela tem efeitos de política monetária¿, afirmou ele na entrevista.
Os especialistas entenderam o recado dado ontem na posse do novo diretor, e acreditam que o BC não vai postergar um possível aumento na Selic. A maioria prevê que isso ocorrerá em abril, mas há quem aposte que o movimento virá em março, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne pela segunda vez em 2010.
¿ O BC sempre mantém as portas abertas para qualquer decisão. O aumento na Selic pode vir em março ou em abril ¿ afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.