Título: A Daslu carioca
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 27/02/2010, Rio, p. 12
Polícia investiga a grife Mara Mac, que já teria deixado de pagar R$15 milhões de imposto
POLICIAL EXAMINA material estocado no escritório da rede de lojas Mara Mac, em Botafogo: a suspeita é que a grife esteja usando nove empresas para pagar menos imposto
ENTRADA DA VILA em São Cristóvão onde mora a sócia de uma das empresas
Considerada uma das mais famosas grifes de moda feminina do Brasil, a rede de lojas Mara Mac é investigada por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra a ordem tributária. Policiais da Delegacia Fazendária da Polícia Civil fizeram ontem uma operação de busca e apreensão num escritório da rede, na Rua Sorocaba, em Botafogo. Informações obtidas pela Secretaria estadual de Fazenda, que iniciou as investigações, apontam que a Mara Mac estaria operando em nome de outras nove empresas, com menor faturamento do que esperado, e que teriam como sócios moradores de casas simples de Vila Valqueire, Pavuna e Realengo. Um outro mora em Paris.
O caso surgiu após um trabalho de rotina feito por fiscais da Fazenda num estabelecimento no Rio Design Barra, no ano passado. Ao chegarem ao local, eles descobriram que a Rediva Comércio e Confecção era, na verdade, uma loja da Mara Mac, apesar de não haver registros de que se tratava de uma filial da rede. A partir daí, um outro levantamento da Fazenda indicou que, tanto Rediva como outras oito empresas que também operavam nos shoppings da Zona Sul com o nome Mara Mac, tinham em comum escritórios num mesmo endereço na Rua Sorocaba.
Sócia teria renda mensal de R$400
A suspeita dos investigadores é que a Mara Mac tenha feito uma manobra para pagar menos impostos. Ao dividir a rede em nove firmas com menor faturamento, a empresa conseguia participar de um sistema de tributação mais vantajoso. Para a Fazenda, as lojas da grife não podem ser consideradas franquias, mas um negócio que pertence a um mesmo dono. ¿As sociedades que utilizam Mara Mac não são franquias, mas tão somente sociedades formadas por pessoas interpostas para obtenção de benefícios fiscais ilícitos, ocultação de patrimônio etc¿, diz um relatório da Secretaria de Fazenda. Além dessa suspeita, a polícia investiga também se os lucros das empresas foram enviados indevidamente para uma das sócias, que mora em Paris. A estimativa é que a rede tenha sonegado nos últimos anos cerca de R$15 milhões.
O advogado da Mara Mac contesta a versão. Segundo Valdo Lira Alves, a rede vem passando por dificuldades financeiras desde o ano passado, o que levou a empresária Mara Teixeira MacDowell a comprar as filiais que estavam em nome de outros empresários. Alves afirmou que todas as unidades já estão em nome de Mara e que a dívida com impostos estaduais seria de no máximo R$2 milhões. Ele afirmou ainda que a sócia que mora na França deixou o negócio no fim dos anos 90, o que indicaria que os documentos obtidos pela Fazenda estariam desatualizados.
¿ No ano passado, a Mara MacDowell decidiu recomprar as filiais porque temia que os sócios tivessem algum problema por causa das dívidas. O que existe é uma problema financeiro da empresa, que tem sido enfrentado. Hoje, toda a rede pertence à Mara e à sua mãe ¿ disse Alves.
Durante a operação em Botafogo, policiais apreenderam documentos e computadores. Eles identificaram ainda uma das sócias da Mara Mac. Funcionária da rede, a mulher, que não teve o nome revelado, teria confirmado que tinha participação numa das empresas. Para os policiais, há indícios de que ela seja apenas ¿laranja¿ da rede, já que sua renda seria de R$400 mensais. A funcionária será convocada nos próximos dias para prestar depoimento, e outras filiais da grife sofrerão uma devassa. O objetivo é obter mais documentos que confirmem o crime de sonegação.
¿ Este é um trabalho importante, que começou com a Secretaria de Fazenda e vai ser ampliado. Vamos fazer uma devassa nas outras empresas para conter a sonegação fiscal no estado feita por grandes e famosas empresas ¿ revelou um policial.
O endereço residencial dos sócios das empresas que operam com a Mara Mac, especialmente daqueles que moram em casas ou apartamentos simples do subúrbio, chamou a atenção dos investigadores. Dos 22 empresários, cinco são do Rio Grande do Sul; oito moram no Leblon, em Ipanema, Barra, Copacabana e Jardim Botânico; e oito em São Cristóvão, Jacarepaguá, Pavuna, Lins de Vasconcelos, Vila Valqueire e Realengo. Numa vila simples, localizada na Rua São Luiz Gonzaga, em São Cristóvão, mora a sócia majoritária da Rediva Comércio e Confecção, que funciona no Rio Design Barra. Já num apartamento de 86 metros quadrados da Rua Ouro Branco, em Vila Valqueire, mora a segunda sócia da Rediva.