Título: Prudente, o deputado da meia, renuncia
Autor: Franco, Bernardo Mello; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 27/02/2010, O País, p. 3

Para não ser cassado, ele escreveu carta em que nega ter recebido propina e se diz vítima

BRASÍLIA. Com elogios à própria conduta e se dizendo vítima de hipocrisia e maldade alheias, o deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido) renunciou ontem ao mandato, numa manobra para não ser cassado pelos colegas. Ele virou símbolo do mensalão do DEM em Brasília ao ser flagrado escondendo dinheiro nas meias num vídeo da Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal. Em janeiro, Prudente já havia sido afastado da presidência da Câmara Legislativa, por decisão judicial.

Na carta de renúncia, o deputado negou ter recebido propina do grupo do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, exDEM). E seguiu o script de culpar o sistema e defender uma reforma política para reduzir a prática de caixa dois. ¿Já admiti publicamente e reafirmo que errei ao receber doação para campanha e não contabilizar, em setembro de 2006. Estou pagando um preço alto. (...) Fui vítima de um modelo autofágico do sistema eleitoral brasileiro no qual prevalece a hipocrisia¿, escreveu.

Prudente admitiu que as imagens em que aparece escondendo dinheiro nas meias são ¿muito fortes¿ e classificou como ¿avassalador¿ o vídeo em que aparece rezando com o deputado Júnior Brunelli (DEM), numa cena que ficou conhecida como oração da propina. No entanto, alegou ter sido criticado injustamente pelas gravações.

¿Os vídeos repetidamente apresentados são maldosos, visam confundir o telespectador, gerar comoção, indignação e liquidar meu mandato, minha honra e meu futuro político. Não menosprezo os fatos, tampouco desqualifico as imagens, apenas coloco as coisas no seu devido tempo e lugar¿, afirmou Prudente.

O deputado negou ter participado do esquema de corrupção que, segundo as investigações da PF, teriam contaminado o Executivo e o Legislativo de Brasília: ¿Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção, sim, e financiar campanha com caixa dois é ilegal¿. Ele ainda disse esperar que os outros políticos reflitam sobre o seu caso: ¿Que a situação de hoje seja um exemplo aos candidatos que irão concorrer às próximas eleições. Não desejo a ninguém que experimente a dor e o sofrimento que minha família e eu estamos vivendo¿.

Antes da renúncia, dez mil cartas enviadas aos ¿amigos de Brasília¿ Ontem, antes de renunciar, Prudente enviou dez mil cartas aos ¿amigos de Brasília¿, numa amostra de que deseja retomar a carreir apolítica na capital federal.

¿Oportunamente, peço minhas sinceras desculpas pelo constrangimento que toda essa situação provocou¿, escreveu.

No fim de novembro, o deputado deu uma versão curiosa para o vídeo em que aparece escondendo dinheiro nas meias e nos bolsos do paletó.

¿ Recebi o dinheiro e coloquei mesmo nas minhas vestimentas em função da minha segurança. Eu não uso pasta ¿ justificou