Título: Da prisão, Arruda faz ameaças a deputados
Autor: Franco, Bernardo Mello; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 27/02/2010, O País, p. 3

Governador afastado teria munição até contra parlamentares não citados em operação da PF

BRASÍLIA. Mesmo preso, o governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM) passou a mandar recados em tom de ameaça aos deputados distritais para tentar se livrar do processo de impeachment. Segundo aliados dele ouvidos ontem pelo GLOBO, Arruda teria uma forte munição contra os deputados distritais.

Se ele sentir que foi abandonado, advertiu um deles, pode revelar detalhes comprometedores envolvendo os parlamentares, inclusive dos que ainda não foram citados na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.

O secretário de Transportes e deputado federal licenciado, Alberto Fraga (DEM-DF), sugeriu ontem que Arruda pode reagir, se houver traição de deputados da base governista.

¿ O resultado desse processo de impeachment é imprevisível. Os deputados têm que saber o que vão fazer! E se tiver denúncias do próprio governador contra eles? Tem gente que não tem condições de julgá-lo ¿ insinua Fraga, para em seguida completar: ¿ Se o PT pode usar o rolo compressor no Congresso para desconvocar a ministra Dilma Rousseff da CCJ do Senado, por que o governador não pode usar a base aliada em sua defesa? Além dos advogados e da mulher, Flávia, Arruda tem recebido poucas visitas na sala onde está preso na Polícia Federal. Algumas dessas raras visitas são de Fraga, que esteve com ele três vezes, sendo a última na quarta-feira. Ele disse que o governador afastado tem grande resistência a renunciar ao mandato.

¿ Já estou aqui, desse jeito. Não tenho mais nada a perder ¿ disse o governador afastado, segundo relato de Fraga.

Esta não é a primeira vez que Arruda fez ameaças, para tentar mudar um quadro desfavorável desde que estourou o escândalo do mensalão do DEM no DF. Em dezembro, para tentar continuar filiado à legenda, mandou recados para integrantes da cúpula partidária, dizendo que ajudou a arrecadar recursos de campanha para candidatos do DEM em todo o país.

Arruda quer ganhar tempo no processo de impeachment e espera ter condições de mudar o cenário na segunda votação em plenário da Câmara, quando serão necessários dois terços dos votos para a aprovação do pedido.

Aliados de Arruda avaliam que, neste momento, é interessante a tramitação do processo de impeachment, para demonstrar normalidade política no Distrito Federal e, com isso, enfraquecer a tese de intervenção federal.

A decisão do governador de não renunciar esta semana teria levado quatro advogados que faziam parte de sua defesa a deixar o caso. Os advogados que permanece devem tentar convencê-lo de que essa é a melhor alternativa para deixar a cadeia.

A avaliação do grupo de Arruda é a de que o balão de ensaio do governador, que se mostrou disposto a se licenciar do cargo, não surtiu efeito no Supremo Tribunal Federal (STF). Isso indica que, se não houver renúncia, o STF manteria Arruda preso. Caso ele aceite a estratégia da defesa e renuncie, seria apresentado recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo a revogação da prisão preventiva ¿ sob o argumento de que, sem o cargo, Arruda não poderia mais interferir nas investigações na condição de governador.