Título: Trajetória no governo será contada em livro
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/02/2010, Economia, p. 28

Ministro pode voltar à sala de aula

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já tem planos para a vida que começa em 1º de janeiro de 2011: registrar suas experiências nos últimos oito anos. Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde 1989 e membro do primeiro escalão da gestão petista a partir de 2003, Mantega pretende escrever um livro, "ou mais de um", assim que deixar o ministério.

A possibilidade do plural está diretamente ligada à riqueza da experiência destes dois mandatos de Lula, contou Mantega recentemente em conversa informal com O GLOBO. No campo doméstico, ele acredita ter um manancial na "reformulação da condução da economia" patrocinada, em sua visão, pela administração do PT.

O incentivo estatal aos investimentos - por intermédio de desonerações e dos bancos públicos - é um tema obrigatório nessa empreitada. A formulação, a implementação e o monitoramento da política anticíclica no pós-crise financeira internacional formam outro capítulo de sua história como ministro.

O abalo global que chacoalhou o mundo em setembro de 2008 abre um terceiro caminho: a articulação das principais economias do planeta e dos organismos multilaterais (como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial).

- Tenho material para vários livros. A experiência na crise, certamente, com a articulação internacional, a formação dos fóruns globais como o G-20. Tem muita coisa aí para ser dita - afirmou o ministro, um dos representantes do Brasil nas reuniões convocadas pelos principais líderes internacionais após a crise para discutir mecanismos de socorro imediato e desenhar uma futura blindagem para a economia.

Mantega descarta sua permanência no governo com uma eventual vitória da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff:

- Já dei minha contribuição. Acho que vou voltar a dar aulas na Fundação Getúlio Vargas (FGV) - afirmou Mantega, em referência à instituição na qual lecionou por muitos anos, em São Paulo.

O ministro deixa transparecer, porém, que poderia trocar a sala de aula por uma experiência internacional, como uma vaga em algum dos organismos multilaterais de ponta, que passam por reformulação à luz das mudanças na economia global:

- Não tenho nada certo. Mas é algo a considerar.