Título: Boa situação da economia deve permitir reação rápida
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 02/03/2010, O Mundo, p. 27

Bolsa cai e cobre tem pequena alta. Algumas estimativas falam de prejuízos de até 20% do PIB

HOMENS se impressionam com o impacto da tsunami causada pelo terremoto de sábado, que afetou o terminal de contêineres do porto de Talcahuano

MERCADO SAQUEADO em Constitución, um dos locais mais próximos do epicentro do tremor do fim de semana

EM MEIO às ruas devastadas, idoso espera ajuda tomando café

No primeiro dia de atuação do mercado financeiro após o forte terremoto de sábado, a Bolsa de Valores do Chile registrou desvalorização de 2,5% e o preço do cobre, principal produto exportado pelo país, subiu 2,8% no mercado londrino. Mas o resultado foi amenizado durante o dia. No início do pregão, o minério chegou a se valorizar quase 5%, mas aos poucos foram sendo dissipados rumores de danos mais graves às minas do produto. Apesar de não existir até o momento um levantamento completo dos prejuízos com o tremor, estimativas apontavam que o impacto pode ser de 10% a 20% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) chileno.

Mas mesmo com dados negativos, a economia do Chile deve conseguir se recuperar rapidamente dos estragos sofridos com o terremoto deste sábado, segundo economistas especializados no país andino. A boa condição fiscal do país, que apresenta superávits fiscais ¿ ou seja, sobram recursos orçamentários no fim do ano ¿ dará ao país uma forte capacidade investimentos, revitalizando não apenas a situação social, mas também a infraestrutura local.

¿ Qualquer catástrofe impacta negativamente a economia, mas não deverá ser tão intenso no Chile. O país tem um histórico de terremotos e sabe exatamente como fazer para se reconstruir e há um colchão de reservas internacionais e fiscais que dará ao país capacidade de investimentos ¿ afirmou Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do Banco Central (BC).

Região mais afetada não tinha muitas indústrias

Ele lembra que o país tem grande credibilidade no mercado internacional, o que deve fazer com que continue atraindo investimentos. Langoni destaca que o Chile deve crescer fortemente neste ano.

Para Renato Baumann, diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), apesar de o terremoto ter afetado a produção de cobre ¿ principal item da pauta exportadora do país e locomotiva das últimas duas décadas de crescimento do Chile ¿ o epicentro da tragédia foi longe das principais fábricas do país e da principal região produtora de fruta e de vinho, localizadas mais ao norte.

Ele, entretanto, acredita que até o momento as autoridades ainda não estão preocupadas com fazer um inventário do impacto econômico do terremoto:

¿ O momento ainda é de contar os mortos ¿ afirmou o economista, que já morou em Santiago, e para quem qualquer previsão realizada até o momento é prematura. ¿ Hoje ouvi que os estragos podem significar 15% do PIB, mas acredito que ainda não há nenhuma base para se afirmar isso.

Em sua opinião, o setor que será mais afetado na economia chilena será o turismo. Mesmo que a infraestrutura básica do país seja refeita rapidamente, o imaginário das pessoas ficará marcado pela tragédia e deve demorar um tempo médio para as pessoas voltarem ao país andino em férias.

Além de um fundo soberano de investimentos, o país tinha, em fevereiro, reservas internacionais de US$25,87 bilhões ¿ US$3 bilhões a mais que um ano antes. Esta boa situação fiscal se espelhava nas expectativas do mercado financeiro. Segundo levantamento realizado pelo Banco Central chileno com os bancos locais, a economia crescerá neste ano 4,9%, com uma inflação de 2,7%. Para efeitos de comparação, o Brasil deve crescer em 2010, segundo economistas dos bancos, 5,5%, com uma inflação de 4,9%.