Título: Tsunamis varrem localidades do mapa
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2010, O Mundo, p. 25
Desprevenidos por falta de alerta, muitos moradores da costa dormiam quando ondas chegaram levando casas e prédios
O CENÁRIO de destruição em Talcahuano após a passagem das tsunamis: barcos no meio da rua, carros virados e moradores desesperados sem água, luz ou comida
CHILENA carrega o filho num carrinho de obra na cidade de La Pezca
A DESTRUIÇÃO na ilha Robinson Crusoé, no arquipélago de Juan Fernández, onde pelo menos 6 pessoas morreram
Flávio Freire
CONSTITUCIÓN, Chile. A falha das autoridades do Chile de alertar cidades litorâneas para a possibilidade de tsunamis após o terremoto de sábado fez a população costeira ser flagrada completamente despreparada para ondas de até 15 metros que arrasaram cidades inteiras. Alguns moradores dormiam enquanto as ondas chegaram arrastando carros e casas pelo caminho. Até agora, o governo contabiliza ao todo 723 mortos, mas a presidente Michelle Bachelet reconhece que a cifra vai crescer após serem computadas as vítimas dessas localidades, algumas ainda parcialmente isoladas por estradas e pontes destruídas.
Uma das cidades mais afetadas foi a pequena Constitución, de cerca de 40 mil habitantes, duramente atingida por tsunamis de até dez metros. As ondas gigantes atingiram a costa minutos depois do terremoto de 8,8 graus na escala Richter na madrugada de sábado, enquanto a maior parte das pessoas dormia. O Ministério da Defesa já reconheceu no domingo que uma falha de avaliação fez com que a ameaça de tsunami fosse afastada, impedindo o alerta à população costeira.
Cidade submersa por cinco horas
Estima-se que cerca de 350 moradores de Constitución tenham morrido na inundação, agravada com a elevação em quatro metros do leito do Rio Maule, que corta a cidade.
Pelo menos 80% das casas e do comércio de Constitución ficaram totalmente submersos por cerca de cinco horas, até que as águas baixassem. Fincada entre as Cordilheiras da Costa e o mar, a cidade também foi ocupada por militares. Os sobreviventes de Constitución usam como abrigo improvisado o mesmo ginásio para onde estão sendo levados os corpos encontrados sob escombros.
Alguns barcos que estavam na costa foram parar nas ruas da cidade, e carros estão completamente revirados e destruídos. Os números de vítimas em Constitución chamam a atenção do governo, que mandou agentes para o local para dar assistência.
¿ A tsunami destruiu quase tudo na costa, e o centro da cidade está completamente devastado. Isso significa que muitas pessoas ainda não foram localizadas ¿ disse o prefeito Hugo Tilleria em entrevista a uma rede de TV, cercado por escombros de casas.
No entanto, outra cidade atingida pela tsunami, Cobquecura, reclama da total falta de atenção das autoridades. O governo do Chile reconheceu ontem que não tem informações sobre a situação em Cobquecura, na chamada oitava região do país, e onde 95% das casas foram totalmente destruídas.
¿ Não temos nenhuma informação sobre Cobquecura. Aliás, não há muita informação de toda a costa do Maule ¿ admitiu ontem o subsecretário de Obras Públicas, Juan Eduardo Saldivia, que ontem participou de uma reunião do Comitê de Emergência encabeçada pela presidente Michelle Bachelet.
As tsunamis também atingiram outras cidades, como Iloca e Pelluhue. Porém, os trabalhos de resgate estão concentrados em municípios maiores, como Curicó e Chillan.
País precisará ter ¿cultura de tsunamis¿
No arquipélago de Juan Fernández, muitos moradores estavam dormindo quando passaram as ondas que arrasaram a cidade. O advogado Pedro Huichalaf Roa ¿ cujo irmão conseguiu se salvar na ilha ¿ contou que a tsunami atingiu a ilha uma hora depois do terremoto, às 4h30m. Segundo ele, alguns moradores conseguiram fugir para colinas após o alerta de moradores de outras cidades que tinham passado pelo tremor.
¿ Não houve alerta das autoridades federais sobre a tsunami ¿ lamentou.
A diretora do Escritório Nacional de Emergências do Chile (Onemi, na sigla em espanhol), Carmen Fernández, disse na noite de domingo que o país precisa aprender a conviver com a ¿cultura de tsunamis¿.
¿ Pela nossa História, temos a cultura dos terremotos e por isso realizamos simulações frequentes (de socorro) em vários pontos do país.
COLABOROU: Ângela Góes
oglobo.com.br/mundo